Nos trilhos do sucesso: pequenos negócios crescem e transformam comunidades do PR

Com a colaboração de Moura Junior, Flávia Barros, Dan Zenon, Thaís Skodowski e Flávia Barros

*Por Vinícius Rangel

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Foto: Reprodução/Rede Massa

A cada ano que passa, o Paraná se torna ainda mais referência para outros estados brasileiros, quando o assunto é empreendedorismo e pequenos negócios. Gente com uma boa ideia que se torna MEI, é capaz de transformar toda uma sociedade e juntos possuem a inteligência de crescer de forma saudável e vantajosa.

Trilhar o próprio caminho, em busca do sucesso, não é uma tarefa fácil. Um maquinista por exemplo, para conseguir ter a expertise de administrar o controle do trem e dos seus vagões, é preciso muito estudo, dedicação e acima de tudo concentração para não apertar um botão errado e colocar tudo fora do lugar.

“Estou há mais de 30 anos na profissão e sei que para que eu pudesse chegar hoje nesta sala, foi preciso que eu focasse 100% nos estudos, nas aulas práticas e também no que eu queria para a minha vida. Trabalhar como maquinista já estava no sangue da minha família, tenho parentes que também seguiram na área e sei que é preciso foco total e muita força de vontade para não acontecer dos trilhos saírem do lugar”, disse Joventino de Souza, ao Massa News.

Foto: Reprodução/Rede Massa

Já dizia a canção de Milton Nascimento, “são só dois lados da mesma viagem”. O trem que chega é o mesmo trem da partida. A linha parece infinita. Os trilhos que transportam a economia do país, levam também sonhos, histórias e esperança. O ponto final, pode ser a grande conquista.

“Tudo o que eu vivo no comando do trem, pode ter certeza que eu me sinto um homem que venci na vida. Eu trilhei o meu caminho, investi em tudo o que sou e caminhei na direção do sucesso. Tudo o que eu fiz foi com muito orgulho e dedicação”, contou Joventino.

A vida é exatamente assim, é como se fosse um trem que a gente embarca sabendo onde a gente quer chegar. Para evitar os percalços, é preciso que os trilhos estejam bem posicionados.

Costurando os próprios sonhos

Em alguns momentos a vista pode ser bonita, outros nem tanto, mas o que torna o caminho de sucesso, é a força de vontade de não deixar de sonhar e isso, 25 mulheres de Pontal do Paraná tiram de letra.

Célia é costureira há mais de 40 anos. Como uma vasta experiência, ela enfatiza sempre em dizer que o barulho da máquina de costura a encanta até hoje. Aos 57 anos, ela se sente como se tivesse em uma grande orquestra, sendo regida pelo maestro da vida.

“É como se eu tivesse embarcado em uma viagem no tempo, em entrou em um lugar lindo, um palco grande. Quando ligo a máquina de costura, é como se eu estivesse numa grande sinfonia. Eu relaxo, lembro da minha história, da família, das coisas boas que carrego comigo sempre. Cada barulho representa minha vida e minha profissão”, revelou empolgada Célia Cidral, ao Massa News.

Entre linhas e tecidos, Célia vai costurando histórias. Hoje a costureira trabalha em um espaço social na sede da prefeitura. Ela e outras amigas, produzem 45 mil uniformes escolares municipais para atender toda a demanda da cidade.

“Cada uniforme que eu produzo aqui é a certeza que eu tenho da escolha da profissão que eu fiz e também de que o meu trabalho é importante não só para mim, mas para as milhares de pessoas que vestem essas roupas. Para os pais dessas crianças. É a certeza de que eu faço a diferença aqui no município. Me sinto muito feliz em saber que em cada peça tem a minha marca, o meu coração”, contou a costureira.

E quem trabalha com costura há mais de 30 anos, como a Veridiana Pereira, confirma a sensação de ser uma peça fundamental para a transformação social das mulheres de Pontal do Paraná. “Cada mãe que a gente encontra na rua, agradece a gente pelo nosso trabalho. É tão importante isso. A gente fica meio sem jeito, porque entendemos que pode ser encarado como algo simples, mas na verdade são sonhos que estamos entregando. Para a família que recebe, é tudo de mais precioso naquele momento e isso só faz sentido porque existem pessoas que querem fazer acontecer”, disse Veridiana, ao Massa News.

Todas as mulheres, de 45 a 62 anos, que estão nesse espaço da prefeitura, são costureiras, mas não são funcionárias. Elas são donas do próprio negócio, microempreendedoras de Pontal. Todas foram acolhidas por um projeto social inovador no balneário. Nesse lugar, elas não costuram penas uniformes, elas costuram sonhos e o de muitas crianças e adolescentes.

Projeto para valorizar economia local

A ideia do projeto “Costurando Sonhos”, surgiu do desejo do prefeito Rudão Gimenes de fazer a economia local se desenvolver ainda. Ele queria lançar estratégias para manter dinheiro girando na própria cidade, proporcionar qualificação aos moradores, incentivar os novos empresários  do ramo e unir tudo num projeto de muitos anos vestindo as crianças nas escolas.

“A gente recebe essas mulheres aqui no projeto e vamos avaliando qual curso ela mais se encaixa, aí elas fazem todo o preparatório e depois o curso. Quando terminam, elas fazem uma avaliação para ver se estão aptas ou não. As que forem aprovadas, já começam a trabalhar com a gente. Algumas já tem máquinas em casa e ficam por lá, outras ficam aqui com a gente mesmo”, contou a coordenadora de produção Francisca Moura, ao Massa News.

Muitas costureiras de Pontal são mulheres que passaram por vulnerabilidade social e vivem a alegria do recomeço. “Eu sempre fui uma pessoa ligada a projetos sociais e hoje tenho a oportunidade de acolher mulheres que estão vivendo uma realidade vulnerável e estão em busca de mudança de vida. Poder dar uma oportunidade e ajudar a construir um futuro melhor pra ela, é lindo demais. Sou muito grata por ajudar a mudar a realidade delas”, disse Francisca.

Todo esse trabalho tem mudado não só a comunidade, mas também a cidade. Sonia é a responsável pelo setor que cuida das pequenas empresárias. Foi capacitada pelo Sebrae para que o programa desse certo.

“Tínhamos a missão de criar alternativas para a produção de uniformes escolares. Decidimos então que toda a parte de tecidos e insumos seriam adquiridos pela prefeitura e credenciaríamos as costureiras do município para fazer a parte de corte, costura e modelagem. Hoje cada uma recebe o valor por peça. Só que isso veio com o apoio do Sebrae que é o autor do projeto de escritório de contas públicas, o que ajudou a gente a entender como faríamos para fomentar os negócios da nossa cidade, valorizando os microempreendedores”, explicou Sônia Regina que é coordenadora da pasta, ao Massa News.

O projeto deu tão certo que o resultado foi melhor do que era esperado. Antes os uniformes eram feitos fora do município, de má qualidade e com um custo muito alto. Hoje já reduziram o valor inicial em mais de 25%, com uma mão de obra local de R$ 600 mil, uma renda que vai ser gerada para essas famílias das costureiras e auxiliares que vivenciam a nova experiência.

“Para mim é estranho hoje eu ser dona do meu próprio negócio, mas eu fico feliz pela minha independência. Faço o meu horário, recebo o meu dinheiro, eu tenho a minha empresa, sou dona de mim”, disse Veridiana.

A bala dos sonhos

Pela janela do futuro, dá pra ver quantas pessoas que buscam trilhar o próprio caminho, um caminho próspero. Mulheres que arregaçam as mangas e colocam as mãos na massa para alcançar os verdadeiros objetivos, construir a própria história e deixar um legado. E algumas chegam a trabalhar dia e noite, com uma massa doce, de banana, que transforma sonhos.

O trem da vida fez uma agora em Antonina, cidade conhecida nacionalmente como a capital da bala de banana.

Foto: Reprodução/Rede Massa

Desde 1986, Maristela Mendes, lida direto com a bala de banana. A herança da família chegou em glória para ela, que desde adolescente já colocava a mão na massa para ajudar o pai, um dos pioneiros do doce no Paraná. Com o falecimento do pai, já com visão de empreendedora, Maristela viu que precisava dar um passo mais ousado para fazer negócio entrar em um novo patamar. Ela buscou gente que sabe falar de negócio para continuar a tocar o projeto familiar, se profissionalizou e conseguiu avançar na direção certa.

“Eu herdei a garra do meu pai para saber que não dava para se contentar com o pouco, eu passei por uma série de cursos no Sebrae para entender o que eu precisava fazer para o nosso pequeno negócio alavancar. Voltei para a sala de aula e aprendi que a hora era de batalhar e inovar. Mudamos muitas coisas aqui, desde a logomarca, refizemos sabores e acima de tudo, mostramos que era um negócio de família forte”, contou empolgada Maristela, ao Massa News.

O negócio cresceu tanto que as mais de 20 toneladas de massa da bala de banana tiveram que evoluir. Rumo aos 30, em breve. Tudo o que foi construído será deixado como legado para a família. “Tudo que eu aprendi eu quero repassar para as pessoas e principalmente para a minha filha. Quero que ela continue nos negócios e ela já está aos poucos assumindo o posto. De geração em geração a bala de banana transforma vidas, uma sociedade”, finalizou Maristela.

O doce que mudou Antonina

Esse produto de muitas mãos, poucas máquinas e com certificação geográfica movimenta a economia local e influencia a estadual. A bala de banana não está somente na pequena embalagem, ela se espalhou. Saiu de um simples doce para abraçar a confeitaria em geral, mas também novas ideias na gastronomia local.

O pequeno hotel próximo a região central da cidade colonial, fez da bala de banana uma verdadeira joia. Hoje o produto mudou de cara, ganhou novas forma e tem estampado até mesmo camisas, canecas, livros e delícias.

“O mais legal disso tudo é que tudo tem sido bem aceito pelos turistas que nos visitam. Aprendi a fazer um bolinho que vai bolo de banana dentro, mas não foi só isso, eu também usei a ideia e coloquei em pequenos brindes. Então todo mundo que se hospeda aqui, prova do bolinho, mas faz questão de levar embora aquilo que é nosso culturalmente. Nossa realidade muito com as novas ideias da bala e tem atraído muita gente. Vivemos hoje uma nova fase”, contou a microempreededora Fran Pereira, ao Massa News.

O Sebrae promoveu um evento na cidade com o objetivo de atrair novos olhares para o produto e tem dado certo. Uma cozinheira, desenvolveu mais de 100 receitas de farofas que tem a bala de banana como ingrediente complementar. “O produto pode ser unido a tantos pratos, porque é uma composição perfeita. As pessoas que gostam do agridoce podem brincar na cozinha. Não há dúvidas que conseguimos mudar, criamos uma nova perspectiva com esse doce. Essa também é uma arte que está na nossa cultura”, finalizou a cozinheira Carla Manfredini.

O pequeno negócio que se faz grande no PR

O reflexo de toda essa movimentação nas duas cidades do Paraná, contribuiu com os números positivos nos últimos meses. Os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), revelaram que janeiro e fevereiro deste ano, a economia do Paraná cresceu 7%. Os microempreendedores individuais têm parcela de responsabilidade nisso tudo. São mais de 900 mil que movimentam a economia do estado paranaense.

A consultora do Sebrae, Patrícia Alvarez, reafirma a importância desse desenvolvimento saudável que impacta todo um contexto maior.

“A maior parte das empresas do comércio de serviços são as micro e pequenas empresas, são os MEIs. E quando a gente vê os indicadores econômicos crescendo, certamente a gente observa que cada categoria de negócio está crescendo muito. E qual é a vantagem deles que eles têm nesse ambiente que é extremamente competitivo? Eles como pequena empresa, para eles às vezes é até mais fácil de inovar, de gerar valor, de criar novos serviços. E uma vez que eles se profissionalizam, a gente acaba vendo esse impacto direto na economia. Então certamente o crescimento da economia tem a ver com a profissionalização e o crescimento desses pequenos negócios”, explicou Patrícia, ao Massa News.

E o que esperar do futuro? “Eu acho que gerar mais valor por meio desse consumo local. Porque quando a gente consome localmente, gera um senso de pertencimento, gera isso de manter a riqueza naquela localidade, tanto para quem consome ali, como para quem também vem de fora. Então um turista, um visitante que vai àquela cidade, ele busca o que é genuíno. Se a gente tem um consumo local, se a gente tem um produto local profissionalizado, organizado, aí a gente gera ainda mais valor. Não só para quem é da localidade, mas também para o visitante, para o turista, para quem vem de fora da cidade. Resulta em economia saudável. Isso é um ciclo de economia saudável”.

Chegamos ao ponto onde o trem da vida pára. A verdade é que ele pode até parar para alguns, mas para outros, é só contornar o trajeto, criar novos caminhos, novas alternativas. O apito não é o fim para quem vê de longe um horizonte de sucesso.

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