Fotógrafos encerram atividades no Parque Barigui após denúncias

Desde a pandemia de Covid-19, há cerca de quatro anos, uma equipe de fotógrafos atua no Parque Barigui, em Curitiba, com o objetivo de registrar os treinos dos atletas que frequentam o espaço. Entretanto, nos últimos dias, a ida dos profissionais ao parque tem gerado polêmica.

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Atletas e frequentadores do Parque Barigui pedem retorno dos fotógrafos. (Foto: Foco Radical/Cedida por Annette Macedo)

Ao Massa News, Lincoln Schindler, fotógrafo e coordenador da equipe, relatou que descobriu, através de terceiros, que os profissionais poderiam ter seus equipamentos confiscados por fiscais do urbanismo caso continuassem com o trabalho no parque. Dessa forma, o grupo optou por encerrar as atividades temporariamente — até a situação ser resolvida.

“Nosso trabalho consiste em fazer fotos dos atletas treinando e disponibilizar essas fotos através da plataforma focoradical.com para que possam adquirir através de reconhecimento facial”,

diz Lincoln.

Porém, usuários do parque realizaram denúncias e questionamentos para a Prefeitura de Curitiba. Em nota, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA) afirmou que houve reclamações de que “os profissionais fazem fotografias dos frequentadores caminhando, correndo e praticando esportes sem qualquer autorização”.

Com uma equipe de cerca de 100 profissionais, os fotógrafos também trabalham nos parques Bacacheri, Tingui e no velódromo da cidade. No Parque Barigui, os registros acontecem diariamente das 5h às 9h e das 16h às 19h30.

Fotógrafos param de trabalhar em parques e aguardam solução

Silvane Boschini Dias, fotógrafa há cinco anos, contou que diversos atletas estão sentindo falta do trabalho dos profissionais no parque: “Já ouvi frases como ‘O parque está cinza sem vocês”; “Vocês incentivam a prática esportiva”; “Vocês contribuem com nossa evolução”, entre outras”, diz. Ela também reforça que a situação é lamentável e que a equipe tira fotos dos atletas sem qualquer tipo de compromisso.

Também membro da equipe, o fotógrafo Lucas Mann tem mais de 15 anos de experiência na área. O profissional afirmou que todo o grupo está sem trabalhar no parque desde 27 de junho. Além disso, ele relatou que, em reunião com as autoridades da prefeitura, “uma das alegações curiosas foi de que o uso de cadeiras para fotografar estava sendo considerado ilegal”.

Os fotógrafos seguem com receio de retomar o trabalho e ter os equipamentos recolhidos. “Me sinto bastante constrangido e surpreso com essa situação. Jamais imaginei que algo assim pudesse acontecer. Para muitos fotógrafos, esse é o único meio de sustento, e essa interrupção impacta diversas famílias”, diz Lucas.

O caso também está repercutindo nas redes sociais, onde diversos frequentadores dos parques estão apoiando e incentivando os fotógrafos. “Estamos recebendo muitas mensagens de carinho e apoio dos milhares de atletas”, relatou Silvane.

Trabalho dos fotógrafos nos parques estava irregular, diz prefeitura

De acordo com a SMMA, fotógrafos amadores, profissionais e qualquer pessoa que faz imagens nos espaços públicos da cidade não têm qualquer impedimento. No caso dos profissionais, basta pedir autorização à Prefeitura, prática comum para fotos jornalísticas e publicitárias.

“No entanto, o Departamento de Parques e Praças da SMMA recebeu, nas últimas semanas, questionamentos e denúncias por telefone da secretaria, e-mail e 156 sobre atividade comercial de fotógrafos profissionais no Parque Barigui”,

diz a nota.

A SMMA reforça que a atividade comercial não tem licenciamento da Prefeitura para ser exercida nos parques. “Empresas que exercem atividades comerciais em espaços públicos de Curitiba (comércio ambulantes, food trucks, lanchonetes, restaurantes, centro de eventos e locação de bicicletas) são devidamente autorizadas por edital de chamamento público para prestar serviços nos pontos autorizados nos parques e dentro da legalidade”, diz.

Quanto ao direito de imagem, a advogada e especialista em Direito Processual Civil, Veridiane Sotto Maior, destacou que as fotos podem ser tiradas desde que os fotografados manifestem sua autorização. 

“Não há problema algum quanto à continuidade das fotos, porém, os fotógrafos devem previamente verificar com os frequentadores do local quem de fato quer ser fotografado. Além disso, há a recente Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) que também veio trazer um maior esclarecimento sobre o exercício do direito de imagem.

A imagem é um dos fundamentos da proteção de dados pessoais, previsto no artigo 2º, inciso IV, da Lei Federal 13.709/2018, ou seja, toda imagem é um dado pessoal”,

explicou a advogada.

Atletas pedem retorno dos fotógrafos nos parques de Curitiba

Annette Macedo, atleta e frequentadora do Parque Barigui há muitos anos, afirmou que a presença dos fotógrafos transmite mais segurança para ela e aos demais esportistas. “Treino três vezes por semana. Para conseguir manter os treinos em dia, preciso chegar muito cedo, muitas vezes antes do sol nascer. Eles fazem todos se sentirem seguros”, contou.

A atleta relatou, ainda, que aguarda ansiosamente o retorno dos fotógrafos: “Gostaria muito de vê-los no parque novamente porque para quem treina com frequência, não é só uma fotografia. É um registro do empenho, foco e dedicação a uma atividade física que nos leva a ter mais qualidade de vida”, diz.

Nas redes sociais, vários atletas também se posicionaram sobre o caso. “Eu liguei no 156 e reclamei que vocês não estão no parque. E que especialmente para nós, mulheres, a presença dos fotógrafos no parque traz muito mais segurança. Estou esperando ansiosa a volta porque tá muito chato correr sem as lentes de vocês”, escreveu uma esportista.

“Os fotógrafos no parque foram um grande incentivo para meus treinos, eu amo ver as fotos e acompanhar a evolução. Fora a segurança que eu sentia por ter vocês por todos os cantos. Não vejo a hora de vocês voltarem”,

publicou outra atleta.

“Para as 16 maratonas que corri, sempre fiz uma parte dos treinos no Parque Barigui e nunca sofri qualquer tipo de importunação de qualquer fotógrafo”,

escreveu um corredor. 

Segundo os fotógrafos, os atletas que treinam com frequência nos parques já conhecem o trabalho da equipe. Os esportistas, conforme os profissionais, já são clientes também de eventos esportivos oficiais e estão de acordo com os registros do Foco Radical.

Com o atual empasse entre ambas as partes, os profissionais relataram que estão procurando entender qual caminho seguir para regularizar a situação. “Estamos confiantes de que conseguiremos resolver essa questão e voltar a fazer o que amamos”, finaliza o fotógrafo Lucas.

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