Os dados sobre a economia e impactos no setor da construção foram apresentados durante coletiva de imprensa nesta semana pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
Pela CBIC, participaram o presidente Renato Correia e a economista Ieda Vasconcelos, enquanto, representando a Confederação Nacional da Indústria (CNI), Marcelo Souza Azevedo, gerente de análise econômica da entidade.
Segundo a entidade, a construção civil deverá crescer 1,5% este ano, muito abaixo dos 10% de 2021 e 6,9% de 2022. Para Vasconcelos, “isto significa que o setor está colhendo os frutos amargos de uma taxa de juros tão elevada por tanto tempo, de uma certa demora nos ajustes do Minha Casa Minha Vida e de uma redução dos lançamentos imobiliários nos primeiros meses deste ano”.
Entretanto, no médio prazo, as perspectivas são boas. Existe a possibilidade de redução da taxa Selic (já tivemos um corte recente de 0,5 ponto percentual que fez a taxa cair de 13,75% para 13,25%), expectativa pelo anúncio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), anúncios de mudanças no Programa Minha Casa Minha Vida, aumento de R$ 29 bilhões no orçamento habitacional de 2023 por parte do Conselho Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e um aceno pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) de que a economia brasileira crescerá 2,1 % este ano (mais que o dobro da projeção anterior).
As mudanças deverão ter impacto, mas provavelmente, só a partir do próximo ano em virtude do ciclo longo dos projetos setoriais.
Estudo aponta crescimento do nível de atividade da construção
O estudo Sondagem da Construção, feito em parceria com a CNI, reforça a resiliência do setor. No segundo trimestre deste ano, o setor apontou o melhor nível de atividade (49,8 pontos) desde o terceiro trimestre de 2022 (53,6 pontos).
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Amparado pela perspectiva do cenário positivo, o nível de confiança do empresário também aumentou para 51,4 pontos, superando o patamar registrado nos primeiros três meses do ano.
Segundo a economista da CBIC, o dado aponta que a confiança está mais disseminada entre os empresários do setor. “O empresário da construção está mais confiante para os próximos seis meses”, afirmou.
Um outro alerta é que um crescimento de apenas 1,5% ao ano traria uma recuperação das atividades nos patamares de 2013 (pico) somente em 2035. “No primeiro semestre tivemos várias notícias positivas, como o aumento de recursos do MCMV. Mas o ciclo da construção é longo e ainda tem fase de projetos, por exemplo. Isso só vai se materializar no final deste ano ou início de 2024. E para se transformar em PIB, precisamos executar obras”, enfatizou Renato Correia.
Queda na poupança e aumento nos materiais de construção
Um outro ponto de atenção se refere aos recursos da caderneta de poupança. Conforme dados do Banco Central, no 1º semestre/23, a caderneta de poupança perdeu R$ 54 bilhões. Mantendo esse ritmo, ela poderá chegar ao final de 2023 com queda de R$ 109 bilhões. Ou seja, registrará uma perda de recursos 34,8% superior à registrada em 2022.
Por sua vez, a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) apontou que o número de unidades financiadas com estes recursos registrou redução de 26,43% no 1º semestre de 2023 em relação a igual período do ano anterior. Enquanto de janeiro a junho/2022 foram financiadas 354.696 unidades, em igual período de 2023 esse número foi de 260.944.
Os profissionais também destacaram a estabilidade nos preços dos materiais de construção. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), calculado e divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), acumulou alta de 3,93% nos últimos 12 meses encerrados em junho deste ano. Ou seja, o menor patamar desde junho de 2020 (3,68%).
Contudo, apesar da desaceleração registrada nos últimos meses, o INCC/FGV permanece com aumento superior à inflação oficial do país, mantendo o custo da construção com o patamar ainda muito elevado.
O presidente da CBIC apontou que vale a pena reforçar o entendimento que o valor do material de construção e dos equipamentos subiu 52,29% em três anos, de junho de 2020 a junho deste ano. No entanto, a inflação oficial subiu 25%.
“O setor não tem condições de absorver nenhum novo aumento de custos. O custo está estabilizado, mas em um patamar muito elevado. É importante estarmos atentos para que novos aumentos não prejudiquem a atividade. Não há mais margem de aumento material”, reforçou Renato Correia.
Construção civil tem resultados positivos na geração de emprego
Pelo sexto mês seguido, o setor registrou saldo positivo de 20.953 postos de trabalho. Desde julho de 2020, a construção tem apresentado resultados positivos no mercado de trabalho, com exceção dos meses de novembro e dezembro, o que já é considerado sazonal para o setor.
“É importante considerar que o volume de emprego que a construção gera hoje é fruto de um processo produtivo longo, iniciado em anos anteriores e contribui com a economia nacional”, apontou Ieda.
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No primeiro semestre de 2023, a construção gerou 169.531 novos empregos formais, apontando crescimento de 7% este ano, alcançando a marca de 2,590 milhões de trabalhadores.
“Nós já tivemos uma empregabilidade maior e ainda temos espaço para crescer. É preciso que o setor tenha uma previsibilidade maior dos recursos para seguir esse caminho de mais vagas”, comentou Correia.
Uma outra notícia positiva foi a elevação da nota de crédito do Brasil por duas agências de classificação de risco – a Fitch em julho, e Standard & Poors, em junho.