Os diversos espaços públicos que compõem as cidades precisam estar preparados para que as pessoas interajam, supram as suas necessidades econômicas, desenvolvam competências, cuidem da saúde, tenham hábitos de lazer, entre outros. E refletir sobre como contribuir para a construção da cidade que queremos é o nosso mote na coluna de hoje.
Para tanto, falamos com alguns especialistas e empreendedores para trazer à tona alguns pontos de embasamento sobre as transformações que já estão em curso no viés do desenvolvimento urbano.
Espaços públicos e exercício da cidadania são pautas prioritária da Academia
Conversei com o professor Willian Carlos Siqueira Lima, doutor em gestão urbana e professor da UniBrasil, que ressaltou a importância da visão sistêmica quando falamos de desenvolvimento urbano, que começa na própria constituição federal, passa pelo Estatuto das Cidades até chegar no Plano Diretor e nas leis municipais específicas.
Para o professor Lima, a política de uso do espaço público precisa priorizar a melhoria das condições ambientais e da paisagem urbana. “Claro que o lar se tornou fundamental principalmente após a pandemia do Covid-19, mas as pessoas entenderam também a importância dos espaços públicos”.
Na visão do professor, “os espaços públicos precisam estar acessíveis por pessoas heterogêneas, dando vitalidade nos diversos horários, evitando áreas de baixa densidade e que eventualmente possam repelir grupos de pessoas e possam gerar uma sensação de insegurança e segregação”.
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No viés privado o professor também aponta que “dispositivos como a adoção de câmeras, gradis e outros instrumentos de proteção geram uma percepção de insegurança, quando em excesso”.
É importante percebermos que houve um recente entendimento também do setor privado que ele precisa contribuir com a construção da cidade, tanto pelo cidadão comum quanto pelas empresas. Sustentabilidade, uma melhor qualidade dos projetos de uma forma geral e cuidados de manutenção têm sido priorizados, dentro de cada realidade.
Lima ressalta que “estas intervenções, mesmo que por pessoas físicas nas suas propriedades, seja com uma pintura, cuidados com os jardins, acabam ajudando a valorizar e dar mais segurança ao entorno”.
A UniBrasil possui um Programa de Extensão Universitária (Proex) que tem a finalidade de contribuir para a formação integral dos profissionais de várias áreas do conhecimento, buscando estar próximo com a sociedade local e regional. Existem vários projetos ligados à paisagem urbanística, patrimônio arquitetônico, entre outros, em andamento.
Curitiba na vanguarda do urbanismo
A capital paranaense é uma referência mundial no trato do urbanismo. Uma das principais ferramentas é o seu Plano Diretor, que somado a um arcabouço de legislações complementares norteiam a Curitiba do futuro.
Incentivos e prêmios concedidos pela administração pública municipal motivam os empreendedores a utilizarem fachadas ativas, galerias comerciais, passagens e praças internas de uso público em lotes privados, e a fruição pública de lotes privados ganha força nos últimos anos a partir desta segurança jurídica.
Em entrevista com o engenheiro Alfredo Vicente de Castro Trindade, especialista em Gestão Técnica do Meio Urbano e também em Mudança do Clima e Sequestro de CO2, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), ele fala sobre este arcabouço legal que existe no município de Curitiba
Trindade reforça que uma das soluções implantadas com sucesso no contato com a população é o Fala Curitiba, onde é possível escutar, compreender e discutir com os moradores propostas de leis orçamentárias, que impactam localmente, ampliando o debate e priorizando as intervenções que de fato façam mais sentido para a comunidade.
Exemplos de sucesso são a requalificação da Alameda Prudente de Moraes, do entorno do Mercado Municipal e da Voluntários da Pátria, cujos espaços para os pedestres foram priorizados dando uma dinâmica nova, no âmbito do Projeto Rosto da Cidade.
A preservação dos prédios históricos da cidade é um importante pilar em Curitiba. A arquiteta Ana Lucia Ciffoni, da Coordenação de Uso do Solo do Ippuc, comenta que os imóveis de valor cultural têm uma atenção especial com o intuito de preservar a memória e a história do povo curitibano, seja com transferência de potencial construtivo ou pela preservação na transformação dos imóveis.
Um programa municipal robusto originário da década de 90, prevê que é possível transformar as construções relevantes para a memória da capital em Unidades de Interesse de Preservação (UIPs).
Trindade também cita o lado da mobilidade ativa e sustentável, onde outro projeto icônico é o do Novo Inter II que agora está em sua fase na região do Tarumã. “O projeto traz o uso de ônibus elétricos (cuja meta em Curitiba é até 2050 ser zero carbono) em via exclusiva, novas conexões e combinações de trajetos e itinerários, mas, também uma revitalização da área, com novas calçadas, paisagismo e iluminação”.
Importante esta percepção de que a vitalidade urbana se reflete além da arquitetura, mas, também na infraestrutura e nos serviços que permeiam a vida nas cidades. Desde ruas bem iluminadas e seguras, transporte público eficiente e espaços verdes acessíveis.
Exemplos da iniciativa privada
Empresas construtoras e incorporadoras têm adotado nos seus empreendimentos iniciativas que aumentam a relação com a comunidade do entorno. Um exemplo é o da incorporadora Rottas, com o Door 7710, no Portão. A adoção da fachada ativa integra o design do edifício e traz mais segurança ao entorno.
Para o engenheiro Paulo Rafael Folador, CEO da construtora, “na Rottas acreditamos na transformação que nossos empreendimentos fazem na vida dos nossos clientes e no entorno. Por isso, nossos empreendimentos priorizam as áreas verdes e um belo paisagismo, segurança, conforto e infraestrutura que atenda toda a família. É o caso do Door 7710. Nosso empreendimento Prime que possui uma linda fachada ativa, que une beleza e segurança. É um verdadeiro presente para o bairro”.
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Outros segmentos também tem avançado na implantação de projetos de melhoria da cidade como o Armazém Santo Antônio, no São Francisco, cuja casa original foi construída em 1870 e o antigo Hotel Eduardo VII, agora denominado Edifício Viva Curitiba, na Marechal Floriano Peixoto com a rua Cândido de Leão. Bons exemplos de edificações históricas recentemente restauradas.
Reflexões dos cidadãos sobre a vitalidade urbana em uma cidade são essenciais para o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida. Quando entendemos os fluxos, a cultura e a interação que permeiam o tecido urbano, somos capazes de promover ambientes mais inclusivos, dinâmicos e resilientes.
Falar de desenvolvimento econômico é importante, mas, também incluir na pauta a diversidade social, cultural e ambiental, que impactam na qualidade de vida dos cidadãos, tornando estes espaços mais vibrantes, humanos e sustentáveis.