A realidade como Wi-Fi e fibra óptica

Por um momento, imagine o leitor que está em frente à magnifica Torre Eiffel, em Paris, ou em frente ao Checkpoint Charlie, em Berlim. Ou mesmo na praça de alimentação de um shopping-center qualquer.

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Foto: Divulgação/Adobe Stock

Dentre os elementos óbvios que seriam evocados – a vasta grama verde até a torre, o cartaz do soldado soviético e a montoeiras de mesas ao redor dos restaurantes – há algo em comum na imaginação destes lugares que pode ser compartilhado por todos: pessoas.

Pessoas indo, pessoas voltando, pessoas procurando um banco para se sentar, pessoas admiradas, eufóricas, famintas, conversadeiras, etc. Se o ser humano é um animal sociável, a imaginação pressupõe sempre rostos e pernas em suas imagens, principalmente em um ambiente público.

Mas há algo novo ao imaginarmos pessoas, algo que parece uma extensão delas mesmas e que consideraríamos uma deformidade a sua falta: o smartphone. O que hoje entendemos como comum, a posse deste aparelho que combina os recursos de um telefone, computador, câmera e reprodutor de música em um único dispositivo, é um exemplo de que a realidade virtual está cada vez mais presente no mundo real.

Sei que isto não é novidade para ninguém, mas o ponto que quero salientar é a fatalidade do mundo virtual, e de como estamos vivendo numa época de obscuridade e indefinição.

E isso porque tudo passa pelo virtual, desde discursos públicos, julgamentos importantes, compras, vendas, aulas, congressos, declarações de amor, rompimentos e qualquer outro exemplo de atividade que se insira no conceito de “atos humanos”, desde que guardadas as diferenças, já que a realidade física é necessariamente excluída no virtual.

Não consigo pensar em nada que efetivamente esteja “à salvo” de alguma manifestação virtual, seja ela boa ou ruim, e que não possa ser transmitido ou alterado para adentrar neste novo mundo, assim como creio ser dificílimo deixar de imaginar jovens rolando seus celulares horas a fio em vídeos curtos de redes sociais, em um estado de tédio e excitação vicioso.

Igualmente, não deixo de imaginar a quantidade impressionante de informações disponíveis com a internet, a facilidade em investigarmos qualquer tema com um smartphone à mão, a conectividade de pessoas a milhas de distancias, o nascimento de amores, a atenuação de saudades e a vigilância constante de nosso dinheiro público.

Exemplos positivos e negativos sobre a era do mundo virtual podem ser multiplicados ao infinito. Mas a questão é que continuaríamos sem saber o que exatamente concluir diante de tudo isso. É como se estivéssemos vendados em um corredor desconhecido, tateando as paredes a procura de qualquer manifestação de luz. Para onde a tecnologia está nos levando?

Nos últimos dias, eu estava na mesma situação dos jovens que aludi anteriormente: rolando meu celular a procura de algo a desejar, de algo que me tirasse do tédio. Um vídeo me chamou a atenção: um rapaz muito bem vestido, sob luzes escuras e misteriosas, dizia sobre os perigos da alta dose de dopamina que meu corpo liberava enquanto assistia uma infinidade de vídeos aleatórios no Instagram, e de como era urgente que escapasse da realidade virtual. Em sua master class de apenas R$ 199,00, inteiramente na modalidade on-line, o rapaz me daria instruções precisas de como me libertar desta prisão.

Curioso: no final, parece que não há caminho de volta, a cada passo andando neste corredor de telas e de vidro, o chão atrás despenca, e só podemos ir em frente, rumo a luz ou a escuridão total – ou quem sabe, numa nova mistura destes dois que só o mundo virtual poderia criar.

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