Apesar da total falta de originalidade, é comum se deparar com a seguinte crítica dos mais jovens ao sistema educacional brasileiro: ele é falho e não prepara devidamente os alunos para o mundo afora.
Rapidamente os jovens propõem alternativas ao que definem como o ensino tradicional – decorebas de fórmulas que jamais serão usadas e matérias que nunca serão importantes para a escolha profissional – como por exemplo, a inclusão de gestão financeira nas grades escolares, aulas sobre economia, administração, uso consciente da tecnologia e estabilidade emocional. Tudo isso, é claro, com aulas em período integral.
Agora seria o momento de dizer que me espanto com tamanha ingenuidade dessas propostas, e de como isso evidentemente seria trocar uma falha por outra possivelmente ainda pior.
Contudo, antes disso, quero dizer que os compreendo: o ensino é realmente falho, mas sempre será falho por uma única razão: os alunos não querem estar ali e não querem aprender o que nunca os interessou.
Niel Postman dizia que a escola pode ser definida como uma série de respostas a perguntas que não foram formuladas pelos alunos. E enquanto mantivermos esse formato de educação, mesmo com os mais variados métodos de ensino, a coisa não vai andar.
Frequência obrigatória, horas sentados na mesma carteira, assuntos que nunca lhes interessou – isso é que faz o ensino “tradicional” ser falho, e propostas mais utilitárias e imediatas (seja injetando mais dinheiro na educação, seja aulas voltadas para o mercado financeiro e para a formação de “caráter”), não serão suficientes para mudar este quadro.
Mas então como o Estado deveria organizar a educação? Como deveria igualizar o ensino para todos os níveis sociais, instigar os jovens a prestarem atenção nas aulas e mais conhecimento para o futuro, e não apenas obterem boas notas para os vestibulares?
Aí está o erro: a ideia de que há um problema na educação contêm a premissa de um organizador central para resolvê-lo. Só conseguimos pensar em propostas que partem da ação do Estado, e sempre do Estado.
Não quero entrar no mérito de ideologias que supostamente são ensinadas aos alunos, ou que o ensino universal é algo ruim. Não se trata disso, mas de que todas as questões humanas acabam sendo institucionalizadas pela intervenção cada vez mais crescente do Estado.
Em todos os âmbitos, isso é perceptível: medicalização, expedição de diplomas como critério de conhecimento, monopolização da cultura, do saber, da moral. Sempre recorremos a uma autoridade estatal. E o interessante é que já não temos meios de escapar dela: o Estado se incumbe de agir por nós, de pensar por nós.
Ainda assim, é interessante que a esquerda, antigamente, era contra essa institucionalização. Foucault entendia que a institucionalização servia para fixar o sujeito em um sistema normalizador, fazendo dele um corpo dócil, capaz de girar e controlar.
O Estado era burguês, e o que os velhos intelectuais pensavam era em como criticar o modelo de sociedade, e não aspectos dela. Isso acabou: agora é a direita que assume o papel dessa crítica e, como quase sempre faz, seus argumentos vem com um tom de rivalidade, de se posicionar contra, de ver conspirações onde há apenas um efeito de uma burocracia crescente e um sociedade marcada pelo produtivismo.
Não sei ao certo quais seriam as soluções para estes problemas, como poderíamos pensar em outras formas de resolução de problemas sem uma intervenção crescente do Estado.
Mas pensar nelas sem cair numa mera rivalidade ou ressentimento contra todo o aparato governamental – eis uma questão para uma vida toda.