Aqui, no sul do país, tivemos uma linda semana de sol e frio, e já começo a sentir, todos os dias, aquele velho receio de que essa adorável combinação termine, de que nuvens negras acobertem o céu e ondas de chuvas desabem no chão.
O que eu mais temo nestes períodos são os leves sinais de trovoada, a formação de massas cinzentas que começam a descolorir o céu e desandam em vários dias de chuva, como se o sol fosse deixado esquecido, pairando sozinho, num triste abandono.
É então que se observa o lento e progressivo aumento do frio, a quietude e o silêncio da noite, o ar branco saído de bocas e gargantas, a agilidade do calor em fuga. Uma espécie de duelo de climas que pode ser percebido em diferentes horas do dia, e nas milhares de ondas que se propagam após o pôr do sol.
A essa altura, os resquícios do calor começam a se esconder embaixo dos carros, na raiz das gramas e sob o meio-fio das ruas. As árvores situadas nas encostas começam a parecer grandes reservatórios de calor a todo instante assediadas pela friagem. Os parques e praças da cidade já lembram velhas florestas de pinheiros no inverno, e nas calçadas só se escuta os silêncios dos córregos e o tirlintar de seus canos.
Para mim, é como se toda a cidade estivesse de rosto cansado, sentindo a falta dos dias quentes, das noites frescas, resistindo ao inverno que se aproxima com uma expressão de doçura e abatimento.
Mas nós também, cada qual a sua maneira, resistimos ao declínio de nossos verões, a perda das esperanças, ao embotamento do coração e as desilusões da alma. Às vezes, quase da noite para o dia, sentimos o inverno que nos cerca, as forças que se esgotam e o frio que percorre nas veias.
E a única defesa que temos, é esta mesma que se esconde na natureza: entregar-se com simples afeto aos pequenos e leves sons da vida, aos graciosos movimentos de tudo que vive sob à profusão de cores e sombras que deslizam, perdidas, sob o nascer do sol, no brotar das flores, ou na simples paisagem de um céu que surge por trás das nuvens.
Angustiados e amistosos, nos apegamos ao que há de mais efêmero e verdadeiro.
Nos apegamos a vida.