Em campo e contra os cartolas, Nigéria se classifica na Copa do Mundo

ALEX SABINO

irlanda-nigeria
Foto: Reprodução/Fifa.com

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A reação de alegria de várias jogadoras africanas foi correr para abraçar o técnico. O discurso de “nós contra o mundo”, que faz tanto sucesso no futebol, poucas vezes foi tão verdadeiro quanto na manhã desta segunda-feira (31, horário de Brasília), no Suncorp Stadium, em Brisbane, na Austrália.

O empate em 0 a 0 com a Irlanda levou a Nigéria às oitavas de final pela terceira na história da Copa do Mundo feminina. O time terminou em segundo no Grupo B, com cinco pontos, um atrás da Austrália. A seleção da casa ficou em primeiro, com seis, depois de golear o Canadá por 3 a 0 também nesta segunda.

Única seleção do continente a participar de todos os Mundiais da modalidade, a Nigéria avançou apesar da escassez de recursos, do descaso da torcida e da falta de apoio da federação local, que vivem em guerra de palavras contra o treinador Randy Waldrum.

As atletas chegaram ao Mundial sem receber nenhum dinheiro. O norte-americano Waldrum trabalha de graça há mais de um ano e suas reclamações quanto à ausência de estrutura e apoio dos cartolas foram recebidas com desprezo.

A dias do início da competição, ele foi chamado por um dirigente da federação de “tagarela” por supostamente se queixar demais. Antes disso, o diretor de comunicação, Ademola Olajire, afirmou que Waldrum era o pior técnico, “de longe”, a dirigir qualquer seleção nigeriana.

Parte da má vontade dos cartolas é porque o norte-americano foi escolhido pelo antigo presidente da federação, Amaju Pinnick, em 2020. O salário dele está em cerca de US$ 100 mil por ano (R$ 472 mil pela cotação atual ou cerca de R$ 39 mil por mês). A explicação para o calote é que a prioridade da federação é manter em dia os vencimentos de José Peseiro, treinador da seleção masculina. O português embolsa cerca de US$ 500 mil por ano (R$ 2,3 milhões ou R$ 191,6 mil mensais).

Incomoda também para os mandatários do futebol no país que Waldrum volta e meia peça paridade no dinheiro investido no futebol masculino e feminino.

“Você pode ver o quanto elas jogam bem e o que podem fazer. Não é apenas para o nosso time, mas precisamos lutar ao redor do mundo porque nem todas as seleções têm acordo coletivo como há na Austrália O mesmo para os Estados Unidos. Está ficando melhor, mas ainda está longe. O céu é o limite se tivermos investimentos, não apenas na Nigéria, mas em vários países da África e da Concacaf, onde há equipes que precisam de mais investimento”, disse ele, após a vitória sobre a Austrália por 3 a 2.

Ele se refere a acordo fechado pelas atletas australianas e norte-americanas para receber o mesmo que os homens.

Waldrum afirma ter seguido no comando da seleção por senso de dever com as jogadoras e para não deixá-las à mercê da federação. As que reclamaram publicamente da falta de dinheiro foram ameaçadas de exclusão das convocações se não escrevessem uma carta de desculpas. Ele também é técnico de futebol feminino na Universidade de Pittsburgh.

No seu primeiro ano de trabalho, levou a seleção para o Texas, seu estado natal, para um período de treinos e amistosos. Tinha apenas 13 atletas disponíveis. A solução foi usar sua rede de contatos para tentar achar nos Estados Unidos algumas nigerianas ou jovens com ascendência do país que pudessem ajudar. Um amigo afirmou ter encontrado duas em Houston que se encaixavam na descrição.

A atacante Esther Okoronkwo, 26, entrou em duas partidas na Copa do Mundo deste ano. Michelle Alozie, 26, colocada na lateral direita, virou titular absoluta e é o nome mais importante da seleção.

Nascida nos Estados Unidos e filha de pais nigerianos, Michelle é formada em biologia molecular na Universidade de Yale e trabalha em pesquisa contra o câncer em hospital infantil em Houston.

“Sabemos que ainda muito o que fazer, mas é preciso trabalhar. Não é sempre que o time mais talentoso vence. Às vezes, é o time que trabalha melhor junto e nós estamos aproveitando muito esta jornada”, comemorou Waldrum.

A Nigéria foi a primeira seleção africana a participar da Copa feminina. Perdeu os três jogos em 1991 e sem fazer nenhum gol. A evolução foi lenta. Quatro anos depois, em 1995, conseguiu empatar um jogo, mas levou 8 a 0 da Noruega.

Apesar da goleada por 7 a 1 sofrida diante dos Estados Unidos, uma surpreendente vitória sobre a Dinamarca a levou pela primeira vez para o mata-mata. Nas quartas de final, fez partida dramática contra o Brasil, que vencia por 3 a 0 e cedeu o empate. Ganhou por 4 a 3 na prorrogação graças a um gol de Sissi, uma das maiores craques da história do futebol feminino brasileiro e a primeira a ser apelidada de “imperatriz”.

A Nigéria depois seria eliminada na fase de grupos em 2003, 2007, 2011 e 2015. Com a mudança no sistema de classificação em 2019, conseguiu avançar às oitavas de final como uma das melhores terceiras colocadas. Caiu diante da Alemanha por 3 a 0.

IRLANDA
Brosnan; Fahey (Caldwell), Louise Quinn e Connolly; Agg (Larkin), O’Sullivan, Littlejohn e McCabe; Payne (Sheva), Farrelly e Carusa. T.: Vera Pauw.

NIGÉRIA
Nnadozie; Alozie, Ohale, Demehin (Ebi) e Plumptre; Ucheibe, Ayinde e Payne; Ajibade, Kanu (Monday) e Oshoala (Onumonu). T.: Randy Waldrum.

Local: Estádio Brisbane, em Brisbane, Austrália
Público: 24.884
Data e horário: 31 de julho de 2023, às 7h (segunda-feira)
Árbitra: Katia Itzel García (MEX)
Cartões amarelos: McCabe (IRL)

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