SAFs disparam corrida do ouro pelo futebol brasileiro

A lei que permitiu aos clubes de futebol no Brasil se tornarem Sociedade Anônima do Futebol (SAF) e buscarem investimentos está atraindo centenas de milhões de dólares para o país, maior fonte de talentos do futebol, uma mudança que pode fazer com que as equipes brasileiras rivalizem com a primeira divisão da Europa.

Foto: Vítor Silva/Botafogo

A onda de dinheiro novo, principalmente do exterior, coincide com a criação da Libra, liga inspirada na Premier League que centralizará as negociações para vender direitos de transmissão e contratos de marketing.

Isso pode permitir ao Brasil manter seus melhores jogadores por mais tempo e cobrar valores mais altos por talentos transferidos para o exterior.

O maior negócio em andamento é uma participação de 51% no Atlético Mineiro, segundo duas pessoas com conhecimento do assunto, que disseram que o clube se reuniu com dezenas de investidores. O acordo pode chegar a 1 bilhão de reais, disse uma das fontes. O clube não respondeu a um pedido de comentário sobe valores envolvidos.

Guilherme Ávila, sócio do negócio de esportes da XP, previu que pelo menos 10 clubes do país se tornarão empresas sob controle de investidores nos próximos dois anos.

Em dezembro passado, a venda do Cruzeiro ao ex-jogador e hoje empresário Ronaldo Fenômeno foi a primeira a tirar proveito da lei aprovada há cerca de um ano. O Botafogo veio a seguir, no início deste ano, vendido para o investidor americano John Textor. O rival Vasco da Gama foi vendido neste mês para a 777.

A próxima na fila é a possível venda do Esporte Clube Bahia para o City Football Group, empresa de Abu Dhabi com investimentos no Manchester City e outros 10 clubes de futebol.

As negociações foram anunciadas pela primeira vez pelo presidente do Bahia, Guilherme Bellintani, no início deste ano, quando disse que o valor do negócio é de 650 milhões de reais.

O City Football se recusou a comentar o acordo com o Bahia. O Bahia não respondeu a um pedido de comentário sobre o assunto.

VENDA DE DIREITOS DE TV

Quanto aos direitos televisivos, espera-se que as negociações comecem no próximo ano, valendo para a partir de 2025. A TV Globo tem exclusividade dos clubes até 2024 para o Campeonato Brasileiro e vários torneios regionais. Dali em diante, a Libra dividirá os direitos – como fazem as ligas da Inglaterra, Itália, Espanha e Alemanha – em pacotes para os quais diferentes grupos podem concorrer, incluindo a Globo e outras empresas de mídia locais e internacionais.

No ano passado, os clubes da primeira divisão do Brasil receberam 3,5 bilhões de reais em direitos de transmissão, principalmente da Globo, com parte da Amazon Prime.

Por outro lado, a Premier League, que tem as maiores receitas de direitos de transmissão de futebol do mundo, recebeu 3,9 bilhões de dólares em 2021 de emissoras como Sky Sports, BT Sport e Prime Video, da Amazon.

Em um vislumbre do que está por vir, os direitos do Campeonato Paulista, que por muitos anos foi exclusividade da TV Globo, foram divididos no ano passado pela primeira vez entre a Record e o YouTube, do Google, com uma fatia do pay-per-view indo para HBO Max/TNT Sports. O novo modelo aumentou as receitas em 30%.

GALO DE OLHO NO EXTERIOR

O Atlético Mineiro está sendo assessorado pelo BTG Pactual. Rafael Menin, membro da família que controla a construtora MRV e um dos quatro empresários que emprestaram à equipe cerca de 500 milhões de reais nos últimos anos, disse à Reuters que o clube prefere um investidor internacional “com experiência ou propriedade de uma grande empresa europeia de futebol”.

O Fluminense também contratou o BTG para ajudá-lo a procurar investidores, mas três pessoas com conhecimento do assunto que conversaram com a Reuters esperam que o clube obtenha menos do que o Atlético, devido às suas finanças mais fracas.

Em comunicado, o Fluminense confirmou que contratou o BTG e disse que avalia a melhor forma de levar o projeto adiante. Mas disse que ainda não há prazo definido, pois o plano depende “de melhor entendimento do mercado e das possibilidades”.

Três executivos de bancos disseram que grandes clubes como Corinthians e Palmeiras poderiam ser tornar empresas com ações listadas em bolsa. Alguns clubes com balanços saudáveis ​​podem ser contra a venda do controle para um investidor e preferem uma base de acionistas mais diversificada, disseram os banqueiros.

“Dependendo das finanças do clube, a listagem pode fazer mais sentido”, disse Bruno Amaral, diretor de fusões e aquisições do BTG Pactual.

Corinthians e Palmeiras não responderam imediatamente aos pedidos de comentários sobre seu potencial para um IPO.

Listagens de clubes em outros lugares tiveram resultados divergentes, com o maior clube listado do mundo, Manchester United, tendo desempenho inferior ao índice de ações norte-americano S&P 500.

NOVA LIGA DE FUTEBOL

A Libra tem 13 clubes, incluindo Flamengo, Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos. Um segundo grupo, chamado Liga Forte Futebol do Brasil (LFF) e formado por 25 equipes, está em negociações para ingressar na Libra.

“Uma liga profissional pode mudar completamente o futebol brasileiro”, disse Alessandro Farkuh, executivo de esportes e mídia do BTG, que assessora a liga. Uma negociação profissional pode aumentar drasticamente as receitas dos clubes, disse ele.

Os clubes brasileiros obtêm apenas 1% de suas receitas com direitos de transmissão internacionais, enquanto a Premier League recebe 48% e a La Liga, da Espanha, 44%.

A XP estima que os clubes brasileiros podem arrecadar 200 milhões de reais com direitos internacionais no primeiro ano.

O novo cenário pode levar o futebol brasileiro a uma receita anual de 5 bilhões de dólares, disse o líder de esportes e mídia da KPMG, Francisco Clemente, acima do montante de 1,3 bilhão de dólares do ano passado. O escritório assessora o Vasco da Gama e o Corinthians.

“Se o futebol brasileiro tiver a mesma participação no PIB do futebol espanhol e britânico, a receita anual pode quadruplicar”, disse.

Isso também pode reverter a tendência recente de jogadores brasileiros serem vendidos para clubes europeus antes de atingirem o potencial máximo, dizem analistas. O valor médio das transferências no Brasil caiu para 12,9 milhões de euros no ano passado, de 19,2 milhões de euros em 2018, segundo a XP. A transação média brasileira é apenas um terço da média de 35,7 milhões de euros da transação espanhola.

Com receitas maiores, os clubes brasileiros podem ter tempo para desenvolver seus craques, em vez de usar as transferências como receita recorrente, disse Ávila, da XP. Isso pode resultar em valores médios de transferência maiores no futuro.

Para o diretor de esportes, mídia e entretenimento na E&Y, Pedro Daniel, as receitas com TVs estrangeiras são apenas uma das muitas oportunidades que os clubes terão para multiplicar suas receitas, considerando oportunidades ainda subexploradas.

“Os clubes de futebol brasileiros viveram por muitas décadas apenas como clubes sociais, mas entenderam que se tornaram veículos de entretenimento e de conteúdo”, disse Daniel.

É de olho nessas oportunidades adicionais de mercado que o BTG criou um braço separado, a Win The Game (WTG), para atuar no mercado de futebol e entretenimento. Além de também ter mandatos para coordenar a reestruturação de clubes menores para um futuro como SAF, a empresa negocia com clubes a instalação de estrutura de dados nos estádios e arenas, para colher informações sobre hábitos de torcedores. Também deve lançar nas próximas semanas programas de fan tokens, recursos que podem ser usados para engajar torcedores e ampliar receitas.

“Os clubes perceberam que há dinheiro na mesa e resolveram se mexer”, disse Claudio Pracownik, presidente da WTG.

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