Santos defende abandono de campo em caso de racismo

SANTOS, SP (FOLHAPRESS) – O presidente do Santos, Andres Rueda, afirmou nesta quinta-feira (25) que estuda pedir ajuda a outros clubes para formar uma espécie de força-tarefa na tentativa de promover uma revolução em medidas punitivas no combate ao racismo.

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Foto: Raul Baretta/Santos FC

A movimentação seria acompanhada do encorajamento às agremiações a uma atitude incomum no âmbito futebolístico: o abandono de jogos com crimes do tipo, provocando uma espécie de choque de cultura no esporte.

Rueda disse à reportagem que teme o que classifica como “medidas brandas” por parte da Conmebol, como multa e a perda de mandos de campo, após a denúncia de ofensas raciais direcionadas a Ângelo e Joaquim durante a derrota por 2 a 1 para o Audax na última quarta-feira (24), em Rancagua, no Chile, pela Copa Sul-Americana.

“Já notificamos à Conmebol e, agora, aguardamos. Alguma solução precisará ser tomada. Queremos uma resposta em caráter de urgência. A minha posição particular e que espero levar a frente, é de fazer uma força-tarefa com ajuda de outros clubes. É uma alternativa que dói, mas, havendo qualquer manifestação, não importa onde: ‘tchau’. O time precisa sair de campo. Mas uma andorinha só não faz verão”, explica.

“Não estou gostando do caminho que as coisas estão indo. Vão punir o clube com multa ou perda de pontos? Isso não é solução, não vai resolver. Alguém que está no comando do futebol -federações, Conmebol, CBF ou Fifa- precisa achar uma solução de verdade. Se não vier, a atitude terá que vir de baixo para cima. Tudo a seu tempo. Por enquanto, aguardamos a movimentação dos órgãos competentes”, completa.

O dirigente santista nasceu na Espanha, país que abriga LaLiga, competição que virou epicentro de discussão por medidas mais severas envolvendo insultos raciais no futebol, após os atos praticados por torcedores do Valencia no último domingo (21), em partida contra o Real Madrid.

“Isso não é o problema de um só país. Tem na Argentina, aqui no Brasil… e não vai parar assim com medidas brandas. Tem vários casos aqui, também. Precisamos parar de tentar tapar o sol com a peneira. Tem que resolver”, argumenta.

Pelo caso envolvendo Vinicius Júnior, a Federação Espanhola de Futebol anunciou o fechamento parcial da arquibancada sul do estádio Mestalla, do Valencia, local onde foram identificados três homens que prestaram depoimento à polícia local. O clube foi punido com multa de 45 mil euros (R$ 242 mil, pela cotação atual).

“É preciso mais em casos assim. Acabar o espetáculo, sair os dois times. Se o pseudo-torcedor não tiver civilidade, precisa ser assim. Isso estourou com o caso do Vinicius Júnior, mas é um problema no mundo todo. O Santos, agora, sentiu. Eu, particularmente, considero um desrespeito com todos: Ângelo, Joaquim e com o maior do futebol que é o Pelé. O futebol precisa contribuir com a parcela que esperam dele, não só dizer que é contra o racismo, mas mostrar ser de fato”, concluiu.

Segundo o clube, os dois atletas citados foram atacados verbalmente e com gestos imitando macacos por torcedores do time adversário.

“O Santos Futebol Clube, novamente, vem a público denunciar e repudiar com veemência mais um caso de racismo no futebol. Dessa vez, os alvos das injúrias raciais foram nossos jogadores Ângelo e Joaquim. Os dois atletas foram atacados verbalmente e com gestos imitando macacos por torcedores adversários presentes na partida de hoje”, traz trecho de publicação do Santos no Twitter.

O Santos afirmou que o crime foi denunciado ainda dentro do estádio, para os representantes da Conmebol. Com os dois casos registrados oficialmente, o clube aguarda o posicionamento da entidade diante desta situação “inaceitável”.

Paulo Roberto Falcão, coordenador de Futebol do Santos cobrou medidas sérias. “As coisas não param se não tiver medidas sérias, punições severas, porque não é difícil identificar. Estamos falando disso alguns dias depois do que aconteceu com o Vinicius Junior, no Real Madrid. Alguém tem que parar com isso. Isso depende muito das instituições”, declarou ao canal De Olho no Peixe.

De acordo com Falcão, os clubes reclamam, lamentam, mas têm um limite de atuação nesses casos.

“A gente reclama, a gente lamenta e isso fica no nosso limite. É uma manifestação triste do racismo e que tem que ser combatida seriamente. Não é possível que se tenha tido no mundo uma repercussão com o Vinicius Junior e as pessoas repetem isso hoje aqui alguns dias depois. Significa que não basta só a gente ficar falando, tem que ter punição”.

Ângelo também se manifestou ao canal De Olho no Peixe cobrando por atitude e pediu que o caso não termine “só no comunicado ou hashtag”, fazendo alusão à crítica usada por Vinicius Júnior à Javier Tebas, presidente de La Liga, horas depois do ocorrido em Valência.

O dirigente espanhol insinuou no Twitter que o jogador estava sendo manipulado e que não deixaria o brasileiro manchar a imagem da competição. Dias depois, pediu desculpas pelas falas.

Na terça-feira (23), o colombiano Hugo Rodallega, do Independiente Santa Fe, afirmou que foi chamado de “macaco” em uma discussão durante o jogo contra o Gimnasia y Esgrima, de La Plata, na Argentina, também pela Copa Sul-Americana.

“Não melhoramos como humanidade, é um desastre o que acontece no mundo inteiro, uma tristeza virmos aqui e isso acontecer. Não digo que perdemos o jogo por causa das pessoas, mas a questão do racismo cansa”, lamentou Rodallega em declarações à transmissão oficial da partida, que terminou com a vitória do Gimnasia por 1 a 0.

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