Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) – Incentivadas pelo presidente Jair Bolsonaro como tratamento contra a Covid-19 –apesar de não haver qualquer confirmação científica– a cloroquina e a hidroxicloroquina têm causado efeitos adversos na população brasileira, com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária registrando 306% mais casos relacionados ao medicamento durante a pandemia do que no ano anterior.
Os dados constam do sistema de Notificações de Farmacovigilância da Anvisa, que é alimentado pelos sistemas e profissionais de saúde.
O levantamento, feito inicialmente pelo jornal O Globo e atualizado pela Reuters, mostra que de 1º de março de 2020 a 1º de março deste ano– período que compreende desde o início da pandemia no Brasil– foram registrados no sistema 1.040 efeitos adversos em pessoas que usaram o medicamento. Já entre março de 2019 a março de 2020, os registros foram de 340 eventos.
Um evento adverso de um medicamento é um problema não relacionado anteriormente nos possíveis efeitos colaterais. No caso da cloroquina, os mais comuns são cefaléia (dor de cabeça forte), dores abdominais, náuseas e taquicardia.
Outro indicador do espalhamento do uso do medicamento é a localização dos registros de efeitos adversos. Enquanto entre 2019 e 2020, 334 dos 340 casos eram do Amazonas –onde é usado com mais frequência para tratamento da malária–, no período seguinte aparecem casos em 18 Estados, vários deles onde não são registrados casos de malária.
Foi em 21 de março de 2020 que Bolsonaro começou a defender a cloroquina como cura para a Covid-19, depois de ouvir o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apontar o medicamento como um possível tratamento.
Entre os registros da Anvisa de março de 2020 a março de 2021 estão 11 casos que tiveram como desfecho o óbito do paciente.
A Anvisa alerta, no entanto, que são casos suspeitos e não há registro dos resultados de análises técnicas que possam confirmar, ou não, que a causa do evento possa ser ligada exclusivamente ao medicamento.
Apesar das evidências contrárias, Bolsonaro defende até hoje o tratamento, incluindo ainda o antibiótico azitromicina e o antiparasitário ivermectina.
Os dois medicamentos também tiveram um crescimento considerável de notificações de eventos adversos, mas nenhum óbito até agora. No caso da ivermectina, foram 14 registros, entre março de 2020 e março de 2021. Os registros mostram náuseas, diarréia, dor abdominal, entre outros.
Já a azitromicina teve 148 registros de eventos desde março de 2020, um crescimento de 323% em relação aos 35 relatos do período anterior, e incluem diarréia, distúrbios cardíacos e erupções cutâneas entre os principais efeitos.