Quem passa pelas imediações do Terminal Capão da Imbuia, em Curitiba, nota um cenário diferente. A maioria das casas que ficavam na quadra cercada pela Avenida Presidente Affonso Camargo e a rua Nivaldo Braga foram demolidas. No local estão os destroços e também algumas residências e árvores que ainda estão de pé.
A quadra, que fica entre a avenida principal e as ruas Nivaldo Braga, João Bientinez e professora Olga Balster, vai receber o novo terminal do bairro – um projeto estudado há mais de dez anos por vários mandatos de prefeitos da capital paranaense.
O atual Terminal do Capão da Imbuia liga as regiões Leste e Oeste e recebe mais de 30 mil passageiros diariamente. É um local importante para os moradores da Regional Cajuru, pois lá passam linhas de ônibus que levam ao Centro, bairros mais distantes (especialmente com as linhas Inter 2 e Interbairros 2) e também aos municípios de Colombo e Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba.
Mas apesar de ter um grande fluxo de passageiros, o terminal é considerado pequeno pelos usuários do transporte coletivo. Nos horários de pico, as plataformas dos biarticulados chegam a ficar completamente lotadas, sem ter onde passar. Assim, a reforma ou a construção do novo terminal era esperada há anos pela população do bairro.
O projeto foi finalmente oficializado em dezembro de 2021, quando a Prefeitura de Curitiba assinou o contrato do financiamento junto ao New Development Bank (NDB) para a implantação do Ligeirão Leste-Oeste. Todo o projeto conta com investimentos de US$ 75 milhões NDB e contrapartidas da prefeitura.
Moradores tiveram que deixar suas casas para a construção do terminal
Para as obras do novo Terminal do Capão da Imbuia, 22 casas foram afetadas. Entre elas está a residência da técnica de enfermagem Gisele Adeline Sother, na esquina da Avenida Presidente Affonso Camargo com a rua Nivaldo Braga, onde ela morava com os pais idosos.
O avô de Gisele comprou o terreno naquele local na década de 1950, quando a região ainda não era tão povoada e antes mesmo do bairro se chamar Capão da Imbuia (o que ocorreu em 1975 – antes, a região pertencia ao bairro Cajuru). O terminal foi inaugurado em 1982.
A negociação da Prefeitura de Curitiba para a desapropriação da quadra começou em 2017. Ao Massa News, Gisele contou que as tratativas tiveram discordância entre os moradores e a administração municipal. A maior parte dos habitantes eram pessoas idosas.
“A prefeitura nunca aceitou propostas de viabilizar em outra área, sempre teve o interesse da nossa quadra”.
O decreto de desapropriação foi finalmente publicado em abril de 2021. Para isso, a prefeitura ofereceu indenização aos moradores, que precisaram buscar novas casas. “Primeiro veio a proposta dela, depois a nossa contraproposta, sempre negada a todos os moradores, e depois a nova proposta”, afirmou a técnica de enfermagem.
O Massa News encontrou em contato com o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) para entender como foi o processo de desapropriação e porque a construção precisou ser naquela quadra, em vez de um local onde não havia moradores. O Instituto afirmou em nota que a quadra escolhida é um ‘ponto estratégico’ e que outros locais precisaram ser descartados.
Houve o decreto de desapropriação, em abril de 2021, e toda a comunicação com os proprietários, que acompanharam cada passo do processo, como o levantamento topográfico, a avaliação imobiliária e as negociações com a Prefeitura. Todo o processo seguiu os protocolos de atendimento às políticas e salvaguardas do agente financiador.
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O ponto para o novo terminal é estratégico para priorizar o deslocamento dos 49 mil passageiros/dia que vão circular pelo equipamento como usuários do transporte coletivo, próximo a outras facilidades da administração pública. Outros locais foram avaliados e descartados por diversas questões, inclusive na área próxima à linha férrea*.
* Atualmente, a linha férrea que divide os bairros Capão da Imbuia e Cajuru passa do lado do terminal.
Gisele e os pais deixaram a casa onde a família viveu por décadas em abril deste ano. Eles se dizem satisfeitos com a indenização, mas não concordaram com a obrigação de ter que pagar um novo Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI).
“Ficamos satisfeitos mas chateados, já que tivemos que pagar um novo ITBI. Isso é algo que foi “forçado”, pois não era a intenção de ninguém ser desapropriado. A prefeitura poderia ao menos ter nos isentado ou repassado um valor a mais por esse processo”, disse Gisele.
Para a reportagem, o IPPUC afirma que o pagamento do ITBI é padrão para todos que compram um novo imóvel.
Das 22 casas programadas para serem desapropriadas, a prefeitura afirma que 16 já foram demolidas. As outras seis ainda estão de pé por conta de documentação ou discordância do proprietário. As tratativas seguem em andamento.
Já a maioria dos moradores desapropriados continuou na região.
Novo Terminal do Capão da Imbuia deve ficar pronto em 2026
Segundo a Prefeitura de Curitiba, durante os mais de dez anos de estudo para implementação do novo terminal foram considerados locais estratégicos e a viabilidade financeira para a construção.
A confirmação da obra veio com o financiamento junto ao New Development Bank (NDB). O novo terminal deve ter aumento nas linhas de ônibus (de 11 para 16), ampliando o atendimento a 49 mil passageiros, além de bicicletário e área de serviço e comércio.
O terminal vai ser uma das paradas do Ligeirão Leste-Oeste. A linha vai ligar Pinhais, na Região Metropolitana, à região Norte da Cidade Industrial de Curitiba (CIC).
O projeto da implementação do ônibus prevê readequação de canaletas, novos terminais e estações ao longo de 20 quilômetros. O trajeto do Ligeirão entre o Terminal de Pinhais e o CIC Norte deve ser 23 minutos mais rápido, com 11 paradas no percurso.
Uma das intervenções do projeto é o binário nas ruas Olga Balster e Nivaldo Braga, ligando os bairros Tarumã e Cajuru. O local, ao lado do Terminal Capão da Imbuia, está atualmente em obras.
O prazo do contrato com o NDB é dezembro de 2026, previsão para que todas as obras do programa Ligeirão Leste-Oeste, incluindo o novo Terminal Capão da Imbuia, estejam concluídas.
E o que vai acontecer com o espaço do atual terminal? Segundo o IPPUC, a canaleta será reconfigurada e o espaço próximo ao trilho, será devolvido à concessionária Rumo, como medida de contrapartida às intervenções do binário da Olga Balster e Nivaldo Braga