Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) – O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a decisão do presidente Jair Bolsonaro de demitir o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, teve um efeito “ruim” do ponto de vista econômico, embora tenha ressalvado que foi “compreensível politicamente”, em comentários feitos duas semanas após a decisão do chefe do Executivo de tirar um aliado seu do comando da estatal petrolífera.
“É compreensível politicamente uma atitude, do ponto de vista econômico, o efeito foi ruim. Essa foi a nossa conversa interna, o presidente sabe o que eu penso, eu sei o que ele pensa”, disse ele, em entrevista nesta terça-feira à noite ao programa Pingo nos Is, da rádio Jovem Pan.
Para Guedes, o presidente deu uma “satisfação política” aos caminhoneiros –público que ele disse ser de “eleitores típicos” e “fiéis” a Bolsonaro–, ao tirar o “cara que diz que não liga para vocês” em momento de aumento do preço do diesel, ao mesmo tempo em que determinou a retirada de todos os impostos federais do insumo.
Segundo o ministro, o governo está tentando fazer a equalização dos tributos “da forma mais asséptica possível” e “com responsabilidade fiscal” –outros tributos tiveram de ser elevados para compensar a perda de arrecadação estimada em 3,6 bilhões de reais com o redução do PIS-Cofins do diesel e do gás de cozinha.
O ministro destacou que a “carga total” não mudou, lembrando que foram retirados benefícios do setor petroquímico, limitada a isenção tributária na compra de carros de luxo para deficientes e também houve mudança na CSLL. Na entrevista, ele não citou nominalmente que houve a elevação da alíquota da CSLL cobrada das instituições financeiras, fato que repercutiu negativamente nos mercados nesta terça-feira.
Guedes fez uma espécie de desagravo a Castello Branco, dizendo tê-lo indicado ao cargo de presidente da Petrobras — mesmo que a estatal não fosse do guarda-chuva da Economia –, que ele é um “excelente economista” e fez um “belo trabalho” de recuperação das finanças da empresa.
Mas o ministro lembrou que o contrato do CEO da Petrobras está expirando e disse que quem indica o presidente da companhia é o presidente do Executivo, com o Conselho de Administração ratificando ou não a decisão.
Há duas semanas, após criticar duramente a política de preços dos combustíveis da estatal em meio a sucessivos aumentos, Bolsonaro anunciou o general Joaquim Silva e Luna para o comando da Petrobras na vaga de Castello Branco, cujo mandato se encerra dia 20 de março.
Na entrevista, Guedes disse que “ninguém” pode dizer que Bolsonaro controlou os preços dos combustíveis da Petrobras, até porque Castello Branco deu novo aumento de combustíveis. Era uma referência ao reajuste de 5% da gasolina e 5% no diesel anunciado na segunda-feira.
A atual direção da companhia justificou os reajustes, entre outros fatores, como medida para alinhar os preços com o valor do barril de petróleo praticado internacionalmente, que é cotado em dólar.
O ministro aproveitou a entrevista para dizer que estatal listada em Bolsa de Valores –como é o caso da Petrobras– é uma “anomalia”. “Não é tatu nem bola” disse o ministro, acrescentando que o formato não agrada nem ao governo nem ao mercado por serem dois universos diferentes.
A troca no comando da Petrobras e as mudanças na política de preços da companhia, justificadas pelo governo para dar maior previsibilidade, tiveram forte impacto nas ações da companhia.