Dólar salta e fecha na máxima desde novembro com estresse global por yields

Por José de Castro

Notas de cem dólares

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar teve firme alta ante o real nesta quinta-feira, dia em que o Banco Central interveio duas vezes no mercado de câmbio, com as operações locais replicando um rali da moeda norte-americana no exterior em meio à escalada das taxas de juros de títulos soberanos dos Estados Unidos, movimento que deprime ativos de risco e ameaça a recuperação econômica global.

O dólar spot subiu 1,62%, a 5,5096 reais na venda. É o maior patamar desde 5 de novembro de 2020 (5,5455 reais).

A moeda manteve oscilações discretas pela manhã até cerca de 11h40, quando começou a ganhar força conforme a alta dos yields no exterior ganhava ímpeto. Às 13h20, com o dólar já em 5,50 reais, o BC anunciou o primeiro leilão do dia, na forma de oferta de venda de dólares à vista, colocando 920 milhões de dólares.

A cotação desacelerou a valorização, mas não demorou para voltar a tomar fôlego. Às 15h37, o dólar bateu a máxima da sessão (5,5393 reais, alta de 2,17%). No mesmo minuto, o BC anunciou a segunda oferta de dólar spot do dia, com venda efetiva de 615 milhões de dólares.

No total, a autoridade monetária colocou 1,535 bilhão de dólares nessa modalidade, com liquidação em 1º de março. É o maior valor de venda a ser liquidado no mesmo dia desde a liquidação de 2,175 bilhões de dólares em moeda à vista em 28 de abril do ano passado.

O BC não fazia leilão de dólar à vista desde dezembro de 2020. Na segunda-feira, o Bacen já havia vendido 1 bilhão de dólares em dinheiro novo via swaps cambiais tradicionais, numa tentativa de conter a forte reação negativa do câmbio à percepção do mercado de ingerência política na Petrobras.

“Está muito claro que o BC está mais pró-ativo no câmbio”, disse Alfredo Menezes, sócio-gestor na Armor Capital, para quem chamou atenção a atuação via pronto, e não swaps, uma vez que as taxas do casado (diferença entre o dólar futuro e à vista) não se mostraram pressionadas.

Para Menezes, os motivos podem ser pressão política, preocupação com a inflação e interesse em diminuir reservas para abater dívida bruta –esta última opção, segundo ele, é reforçada pelo fato de a intervenção ter ocorrido com dólares das reservas.

Diferentemente de outros dias de pressão nos mercados, o real não liderou as perdas globais nesta sessão, posto que coube ao rand sul-africano (-3,4%). Em seguida vinham lira turca (-2,4%), peso mexicano (-2,2%) e peso chileno (-2,1%) –a moeda brasileira aparece logo depois.

Esses pares do real vinham de desempenhos mais favoráveis nas últimas semanas e, com o “sell-off” do mercado de bônus nesta quinta, foram alvo de realização de lucros.

O estresse nos mercados nesta quinta-feira ainda foi motivado pela contínua subida dos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA, os Treasuries. A taxa de dez anos –referência para os custos globais de empréstimos– saltou a 1,614%, de 1,389% da véspera, maior patamar em mais de um ano.

Juros mais altos tornam esse ativo –considerado o mais seguro do mundo– ainda mais interessante, o que estimula desmonte de carteiras em outros mercados –como ações e moedas emergentes. O índice S&P 500 da Bolsa de Nova York tinha forte queda de 2,3% no fim da tarde. O Nasdaq Composite –com peso relevante de papéis de tecnologia– despencava 3,5%.

A pressão nos bônus vinha em doses mais brandas nos últimos dias e se intensificou nesta quinta, mesmo depois de, na véspera, o chefe do banco central dos EUA, Jerome Powell, ter assegurado que os juros permanecerão baixos.

“Vejo alguma chance de que o mercado de títulos empurre o Fed para mais flexibilização ou expansão do balanço, ou pelo menos um compromisso ainda mais explícito com o dinheiro barato até a reflação. Pode gerar ainda mais inclinação da curva e uma segunda corrida por commodities”, disse Will Slaughter, gestor sênior e sócio da Northwest Passage Capital Advisors, firma especializada em mercados emergentes e baseada em Milwaukee, Wisconsin, EUA.

A escalada do dólar nesta sessão foi acompanhada de novo rali nos juros futuros da B3, num momento em que o mercado discute chances de início de uma normalização do patamar da Selic no mês que vem.

“Com essas pancadas nos yields dos Treasuries, se o BC não elevar a Selic em março, vejo dólar buscando 5,70 reais”, disse Henrique Esteter, analista de research e equity sales na Guide Investimentos.

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