Eleitorado jovem pode ser o menor da história; especialistas apontam causas

A faixa do eleitorado de jovens entre 16 e 17 anos, para quem o voto é facultativo, pode ter, neste ano, o menor número absoluto da história. É o que aponta levantamento recente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Até fevereiro, 834.966 adolescentes menores de idade estavam aptos a votar. Em 2018, eram pouco mais de 1,4 milhão de jovens, o que indica uma redução de cerca de 40%. Já em comparação com dados mais antigos do TSE, a redução chega a 74%.

Foto: Agência Brasil/Rovena Rosa

Hoje, os jovens nessa idade representam 0,56% de todo o eleitorado. Para aqueles que ainda pretendem votar este ano, o prazo para regularização e/ou emissão do título de eleitor é 4 de maio. Adolescentes que irão completar 16 anos até a data do primeiro turno das próximas eleições (2 de outubro) também podem emitir o documento.

Dúvida e desinteresse

Apesar de faltar menos de 2 meses para o prazo final, muitos jovens ainda estão em dúvida se irão votar ou não em 2022. É o caso de Fernanda Cerantola, de 16 anos, moradora de São Carlos, no interior de São Paulo. Ela afirma que, para sair da indecisão, falta “um pouco de incentivo do governo, falando um pouco para a população jovem votar, ‘por que é importante [o voto]?”. Fernanda também relata que o colégio em que estuda, no período próximo às eleições, apresenta dados e informações dos candidatos, de modo a ajudar os alunos no processo de escolha na hora de votar.

Já Bruna Cardoso, também de 16 anos, está certa que não irá votar: “Eu acho [política] um pouco cansativo, porque eu não vejo eles fazendo nada muito voltado para o público mais jovem”. Bruna mora em Cotia, na região metropolitana da capital paulista, e conta que algumas amigas vão votar e outras não, mas, segundo ela, a escola que frequenta não “se envolve muito em política”, não incentivando os jovens a irem às urnas.

De acordo com o cientista político Leandro Consentino, professor do Instituto Insper, o desinteresse dos adolescentes pode ser explicado pela falta de ensino sobre política para os mais jovens. “A gente não busca incentivar o jovem a conhecer o seu sistema político, entender o que é uma democracia, como é que ela funciona”, argumenta.

Para a professora da FESP e doutoranda em Ciência Política pela USP, Joyce Luz, o desconhecimento dessa faixa etária sobre política é um fator determinante para a redução do eleitorado de 16 e 17 anos. Ela afirma que falta para os adolescentes enxergarem que “eles podem usar a política como um elemento transformador”.

Segundo a professora, o jovem não consegue fazer a conexão de que os problemas que ele encontra no cotidiano são questões que podem ser resolvidas através da política. “Se ele não enxerga essa conexão, ele não vê importância na política, logo ele não quer participar”, conta a especialista. Joyce ainda lembra que, mesmo sendo facultativo, o peso do voto dos adolescentes é o mesmo que dos adultos: “O jovem não é o futuro do país, é o presente tanto quanto nós […], o resultado do nosso voto vem um pouco adiante, mas o poder transformador começa hoje”.

Medidas

Leandro Consentino afirma que há duas medidas a serem tomadas para atrair essa faixa etária às urnas. Para ele, a curto prazo, as campanhas políticas deveriam adentrar o universo dos adolescentes, como as redes sociais: “Não adianta nada o TSE lançar uma campanha no intervalo da novela se o jovem nem assiste mais […] você precisa fazer campanha e focar nos lugares onde o jovem está, nas redes sociais”. 

Quando questionada sobre essa hipótese, Fernanda conta que, caso a política começasse a explorar melhor esses espaços, ela teria mais vontade de votar e “de entender o contexto político”. Bruna também relata que, para os jovens, as propagandas políticas na televisão não atingem sua faixa etária e, nas redes sociais, as campanhas teriam mais efeito sobre esse público: “Por que eu só vejo na TV [propaganda política] e hoje em dia acho que muita gente não assiste mais TV”.

Pensando no longo prazo, o professor do Insper argumenta ser necessário incentivar a educação do que é cidadania e política dentro das escolas. Segundo ele, a ideia de democracia não é algo “para qual o cidadão nasce pronto, ele precisa ser ensinado, precisa ser preparado, isso precisa encontrar ou abraçar o nosso sistema educacional”.

Joyce concorda e pontua que toda sociedade tem parte na culpa do distanciamento dos adolescentes das eleições: “Nós poderíamos, como cidadãos, exigir do governo que fosse implementado nas escolas a disciplina de educação política”. Para ela, é necessário que o jovem entenda, desde cedo, a estrutura na qual ele está inserido para que ele possa se interessar em votar. 

“O fato do jovem ter contato com a educação política poderia mudar essa realidade [de desinteresse], poderia fazer o jovem perceber que ele faz parte sim da política”, afirma a professora.

Perspectiva

Contudo, apesar de 2022 poder ser o ano com o menor eleitorado de jovens na história em números absolutos, ambos especialistas acreditam haver uma visão deturpada sobre o interesse desses jovens em política e que a sociedade deve, também, enxergar o “copo meio cheio”. 

“A gente está acostumado a entender e fazer política como votar e ser votado só, mas, por exemplo, participar de causas, de organizações, de mobilizar nas redes sociais também é uma forma de fazer política. Então talvez o interesse dos jovens não esteja decaindo na política, mas nessa forma antiga”, avalia o professor.

Joyce conta que há o senso comum de que o jovem é desinteressado pela política, mas rebate: “Esse jovem não tem desinteresse pela política, é que o jovem não sabe o que é a política. Se ele não sabe, ele não se interessa”.

‘Tuitaço’

Nesta quarta-feira, o TSE convocou um ‘tuitaço’ com a tag #RolêDasEleições para incentivar a participação de jovens no processo eleitoral. A iniciativa é parte da Semana do Jovem Eleitor, que vai até a próxima sexta-feira (18).

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