Furacão Ian renova debate nos EUA sobre jornalistas expostos a tempestades

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Além de dezenas de vidas perdidas e um cenário de casas destruídas, postes caídos e árvores derrubadas, o furacão Ian tem reacendido um tema inusitado para a pauta da imprensa americana: os repórteres de televisão que ficam, literalmente, no olho do furacão para fazer transmissões ao vivo.

Foto: Reprodução/ Twitter

Nesta quarta (30), foi muito compartilhado nas redes sociais um vídeo do apresentador do Weather Channel Jim Cantore sendo golpeado na perna por um galho de árvore, enquanto tentava se equilibrar para não ser arrastado pelos ventos de até 250 km/h com os quais o Ian atingiu a pequena cidade de Punta Gorda, na Flórida.

“Me deem um segundo. Você não consegue ficar em pé”, diz o repórter, em determinado momento da transmissão, se segurando em um poste para não voar no meio da chuva torrencial. Autoridades afirmam que o Ian pode se tornar um dos fenômenos mais mortais a atingir o estado americano em décadas.

Experiente na cobertura de furacões, o apresentador ficou bem, mas a reportagem levantou o questionamento, nas redes sociais e na própria imprensa, de por que as emissoras colocam a vida de jornalistas em risco ao enviar profissionais para reportar in loco fenômenos climáticos extremos.

“Assistir a um ser humano encharcado sendo surrado por elementos da natureza é o tipo de imagem dramática que as emissoras buscam nessas situações, ainda mais em um contexto no qual vídeos como o de Cantore podem viralizar”, escreveu o jornal The Washington Post. No artigo, o jornal acrescenta que esse tipo de reportagem é comum nos EUA há décadas e que as TVs não se contentam em apenas apontar uma câmera para o furacão em ação.

“Esse jornalismo participativo não tem paralelo no ramo das notícias. Os repórteres de guerra em geral não se colocam literalmente no meio do combate, e os de polícia não fazem transmissões no meio de tiroteios. Um repórter cobrindo um incêndio mantém uma distância segura do fogo.”

Diversas reportagens -tanto sobre o furacão Ian quanto sobre tempestades destrutivas de anos anteriores, como Irma e Sandy- apontam a contradição em colocar de propósito uma pessoa dentro de um furacão se a mensagem principal for justamente mostrar os riscos do fenômeno extremo e pedir para que ninguém saia de casa até a chuva passar. Ou seja, os jornalistas sabotariam a própria notícia.

Não há valor noticioso em mandar jornalistas cobrirem furacões ao vivo, argumentou o site The Atlantic em relação a reportagens veiculadas na televisão durante o furacão Sandy, há dez anos. Isso porque a informação que os repórteres trazem -“o vento está muito forte e as marés estão subindo com as chuvas”-são óbvias e podem ser obtidas de maneiras mais seguras.

Arriscar a segurança pessoal de um profissional só vale a pena em coberturas específicas, como as de guerras, movimentação de refugiados e países com regimes políticos repressivos, argumenta The Atlantic, porque as informações nessas situações são restritas e imprevisíveis e dificilmente seriam difundidas sem a presença de um jornalista no local.

Apesar de todos os contras de reportar de dentro de um furacão, jornalistas nessa situação às vezes acabam fazendo um trabalho de salva-vidas, como o repórter Tony Atkins, de uma estação de TV de Orlando.

Ele resgatou uma mulher que ficou presa em seu carro quando tentava passar por uma enchente causada pelo Ian. “Procurei policiais que pudessem ajudar a resgatar aquela mulher. Mas ninguém estava lá”, disse.

Por Folhapress.

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