Guerra na Ucrânia completa seis meses nesta quarta

A guerra entre Ucrânia e Rússia completa seis meses nesta quarta-feira (24) e parece estar longe de terminar. Em meio a acusações, bombardeios, dezenas de milhares de mortes, crimes sexuais e pessoas tornando-se refugiadas, não há diplomacia e sanções que tenham conseguido resolver o conflito.

Foto: Reprodução | Divulgação

Nesses 180 dias, milhares de soldados foram mortos durante batalha de ambos os lados. No entanto, os números divulgados pela Rússia e pela Ucrânia divergem também em dezenas de milhares. Como em todas as grandes guerras, a dimensão da fatalidade só fica clara anos após o conflito.

Entre os civis, a Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que até dia 22 de agosto 5.587 foram mortos (2.161 homens, 1.490 mulheres, 149 meninas e 175 meninos, assim como 38 crianças e 1.574 adultos com gênero desconhecido).

Além disso, 7.890 foram feridos (1.603 homens, 1.190 mulheres, 172 meninas e 236 meninos, além de 202 crianças e 4.487 adultos de gênero desconhecido). Vale lembrar que a ONU aponta dificuldade em contabilizar as vítimas da guerra devido aos poucos registros. Esse número pode ser significativamente maior.

Apesar de vizinhos, a relação entre os países nunca foi amistosa. A Rússia ameaça a independência da Ucrânia, até mesmo tendo anexado a região da Crimeia, originalmente ucraniana, como parte de seu território em 2014. O interesse em dominá-la é econômico. Na região, há “terra negra” que é ideal para a agricultura, petróleo e gás natural, principais produtos de exportação dos russos. 

O clima piora com o interesse da Ucrânia de Volodymyr Zelensky de se aproximar da Otan (Organização do Tratado do Atlântico-Norte) e da União Europeia.

“O que definiu esse ataque russo foi um medo de perder a influência sobre a Ucrânia, o modo como ela foi se tornando cada vez mais próxima da União Europeia, por razões políticas e econômicas, muito mais do que militares. Então agora uma das ironias dessa guerra é que ela tá empurrando exatamente a Ucrânia para este caminho de distanciamento né, então aprofundou essa distância com relação à Rússia”, afirma o cientista político e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Maurício Santoro.

A guerra e seus aliados

O primeiro embate direto se deu no dia 24 de fevereiro deste ano, quando o presidente russo Vladimir Putin anunciou que faria uma operação militar “de paz” na Ucrânia e bombardeou as cidades de Kiev, Kharkiv, Odessa e na região de Donbass. No entanto, o conflito começa bem antes, já que no fim de 2021 a Rússia já ameaçava um confronto e mandava tropas para a fronteira entre os países.

“Acho que a única maneira de ter evitado essa guerra seria se depois que a Rússia realizou a primeira intervenção militar na Ucrânia, lá em 2014, com a anexação da Crimeia, houvesse realmente uma reação internacional tão forte, tão negativa, que os russos tivessem medo de levar adiante algum tipo ali de nova intervenção, de nova guerra. Mas o que houve ali em termos de reação internacional, o que houve ali em termos de sansão, não foi particularmente forte e os russos acreditavam que valia a pena arriscar ali uma nova guerra, diante da importância que a Ucrânia tem para eles”, comenta Santoro.

Diversas sanções contra a Rússia foram aplicadas por nações contrárias ao conflito. Reino Unido, Austrália, União Europeia, Canadá e os Estados Unidos congelaram bens, suspenderam exportação e importação de produtos essenciais, fecharam espaço aéreo e limitaram o uso de bancos e financiamentos. O que prejudica a economia do país e deve piorar ao longo do tempo.

Muitas empresas fecharam suas franquias na Rússia, como as marcas de luxo, Hermès, Chanel e Cartier. No ramo alimentício, Starbucks, Heineken, McDonald’s e Coca-Cola. As marcas de produtos eletrônicos Apple, Microsoft e Dell Technologies pararam de vender seus produtos ao país. Além de empresas do ramo petrolífero, de aviação, de energia, entre muitas outras.

Os EUA e o Reino unido enviaram armas e quantias milionárias dezenas de vezes durante os seis meses de confronto. Recentemente, o Reino Unido tem treinado pessoas comuns para tornarem-se soldados ucranianos. 

As cidades da Crimeia (Anexada à Russia), Kherson, Zaporizhzhia, Donetsk, Luhansk, Kiev (capital), Dnipro, Odessa, Kharkiv, Kramatorsk, Bucha, entre outros locais, já foram atacadas. 

A parte vermelha do mapa, atualizado em 19 de agosto, representa a parte onde tropas militares da Rússia já estão em combate: 

Outro aspecto preocupante do conflito é que a maior usina nuclear da Europa fica em Zaporizhzhia, região ucraniana ocupada pela Rússia em março e que tem sofrido diversos ataques. O mundo teme um desastre nuclear, que se ocorrer, deve ser igual ou pior que o ocorrido em Chernobyl no ano de 1986. 

A ONU pede permissão para inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) terem acesso ao local, enquanto a Rússia chegou a afirmar que fecharia a instalação, que fornece energia elétrica para pelo menos metade da Ucrânia. Na última 6ª feira (19.ago), o presidente Putin afirmou que iria deixar que os inspetores visitassem o local, em suposta conversa por telefone com o presidente francês Emmanuel Macron, porém ainda são informações preliminares.

“Se essas barras de combustível ainda estiverem no reator e você cortar a eletricidade, cortará o sistema de resfriamento que controla a reação e desencadeará uma reação nuclear em cadeia incontrolável na instalação. Haverá um colapso”, explicou o analista de segurança nacional dos EUA, Joe Cirincione, à CNN Internacional.

Situação dos refugiados

Quando as sirenes de Kiev, capital da Ucrânia, tocaram, anunciando os bombardeios, o caos tomou conta, com os habitantes tentando fugir do país. Aproximadamente cinco milhões de ucranianos tornaram-se refugiados.

Desde então, milhares de pessoas morreram nas explosões provocadas por ambos os países e muitos foram enterrados sem serem identificados. Denúncias contra alguns soldados russos surgiram, de que eles teriam estuprado bebês, crianças, mulheres e até idosos.

Santoro comenta que os ucranianos costumam ser bem-vindos em países da União Europeia. “Houve ali uma abertura dos europeus, uma solidariedade dos europeus que marcou um contraste com posições muito mais duras dos europeus com relação aos sírios, por exemplo. Politicamente, a Ucrânia é um país importante para a Europa. Do ponto de vista cultural, os ucranianos são muito próximos dos outros europeus. Compartilha aí uma certa comunidade de valores, de uma cultura comum e tudo isso influi.” afirma o professor.

As Nações Unidas alertaram para o perigo que as crianças com deficiência sofrem tanto ao se deslocar do país quanto ao ficarem em suas casas desprotegidas; já que a maioria dos locais não atende suas necessidades especiais, ajudando a deteriorar a saúde frágil deles. 

Ainda em relação às crianças, elas já correm risco ainda na barriga da mãe. “A guerra aumenta os níveis de estresse em mulheres grávidas, o que leva a um aumento no número de nascimentos prematuros relatados”, disse Herve Verhoosel, porta-voz da agência global de saúde Unitaid. O nascimento prematuro faz com que o país precise de mais respiradores, necessitando dinheiro e energia elétrica. 

Os pequenos que se tornaram órfãos também são uma preocupação, já que autoridades russas estão deportando as crianças com pais mortos da Ucrânia para serem adotados no novo país. A guerra já impacta as futuras nações ucranianas com a defasagem de aprendizado, pois os jovens estão sendo mantidos fora da escola; o trauma causado pelas cenas de terror e a falta de um ambiente com boas condições para o desenvolvimento e crescimento deles.

Quando vai terminar?

“Por enquanto a gente não tem nenhuma perspectiva de que essa guerra acabe ou de como isso deve acabar assim em questão, a gente não tem nenhuma perspectiva do que vai acontecer, se vai ter ali alguma grande mudança no campo de batalha, algum desdobramento político, mas por enquanto o que a gente tem é o prolongamento”, comenta Santoro.

O cientista não acredita que tropas de países aliados à Rússia ou Ucrânia entrem no combate em algum momento. “Eu acho extremamente improvável que aja qualquer tipo de envolvimento militar direto dos americanos ou dos europeus na guerra da Ucrânia. O que eles vão continuar a fazer vai ser ajudar a Ucrânia militarmente. Enviar equipamento, treinar soldados ucranianos, mas não enviar tropas diretamente para lá”, afirma.

“É uma guerra que tem tido Impacto extremamente negativo tanto para a Rússia, quanto para a Ucrânia, sem que a gente tenha ali no horizonte a possibilidade de uma resolução. Então se a gente for comparar com um conflito, talvez a melhor comparação seja com a Primeira Guerra Mundial. Com a lentidão do que foram aquelas aqueles combates, com os poucos resultados nos campos de batalha”, comenta.

Com essa lentidão, quem deixou o país chora por estar longe de casa e quem ficou na Ucrânia em ruínas também.

Informações de SBT News

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