Gilmar Mendes pode deixar de ser cidadão honorário de Curitiba

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes pode deixar de ser cidadão honorário de Curitiba, título que recebeu em 2002 pela Câmara Municipal. Um projeto de lei protocolado pelo vereador Professor Euler (MDB) quer revogar a honraria após a repercussão da entrevista do ministro ao programa Roda Viva, da TV Cultura.

Na conversa com jornalistas, Gilmar Mendes disse que “Curitiba gerou o Bolsonaro, Curitiba é o gérmen do fascismo”. A declaração foi dada quando o ministro falava sobre os resultados da Operação Lava Jato e as denúncias de que Sergio Moro (União), então juiz federal, teria articulado com procuradores do Ministério Público Federal (MPF) para dar subsídios à condenação de Luiz Inácio Lula da Silva em 2016, antes das eleições de 2018.

“Ao dizer que ‘Curitiba tem o germe do fascismo’, o ministro Gilmar Mendes não deixou apenas de dignificar o Município de Curitiba, como também fez com que boa parte dos curitibanos e curitibanas se sentissem ofendidos”, diz o texto do projeto de lei. “A frase usada pelo ministro usa o verbo TER no tempo presente, o que desmonta por completo a justificativa de que estaria se referindo a fatos passados ocorridos na Operação Lava Jato”, complementa.

“Manter como Cidadão Honorário de Curitiba alguém que vem demonstrando ao longo dos anos um temperamento belicoso, rude, ofensivo e grosseiro não faz qualquer sentido”, argumenta o autor do projeto. “São características que não merecem ser cultuadas com o oferecimento de cidadania honorária, que é a maior honraria que alguém poderia receber do nosso município”, conclui Professor Euler.

Gilmar Mendes se desculpou com Curitiba

No dia seguinte à exibição do programa, diante da repercussão negativa das declarações sobre a capital paranaense, Gilmar Mendes usou o Twitter para se desculpar e explicar qual a intenção com seu comentário.

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“Em entrevista ao Roda Viva, usei uma metonímia que merece explicitação. Jamais quis ofender o povo curitibano. Não foi Curitiba o gérmen do fascismo; foi a assim chamada ‘República de Curitiba’ (Operação Lava-Jato e os juízes responsáveis por ela na capital paranaense)”, escreveu o ministro do STF.

O próprio governador Ratinho Junior (PSD) também usou as redes sociais para repudiar a fala do ministro e dizer que aguardava uma resposta – a postagem foi feita antes da declaração do ministro. “O Paraná é terra de gente trabalhadora, que tem como norte o progresso, a lei e que repudia a corrupção e toda e qualquer forma de intolerância e preconceito”, escreveu o governador.

Moções contra Gilmar Mendes na Câmara de Curitiba

Além do projeto que quer revogar o título de Cidadão Honorário de Curitiba, o ministro Gilmar Mendes também pauta outros dois projetos protocolados após a declaração feita no Roda Viva. Um deles é uma moção de desagravo da cidade de Curitiba assinada por 19 vereadores.

“Gilmar Mendes desrespeitou gravemente a Cidade de Curitiba, pois ignorou a sólida tradição democrática da Capital do Estado do Paraná, suas instituições republicanas e as autoridades legitimamente constituídas, mas, principalmente, desrespeitou sua gente, curitibanos de nascimento ou por opção, que respeitam os valores constitucionais, os direitos fundamentais, as liberdades democráticas e repudiam toda e qualquer forma de totalitarismo e opressão”, diz o texto do projeto.

O projeto entrou em discussão na sessão da última quarta-feira (10), mas a votação foi adiada para a próxima segunda (15).

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Já o vereador Rodrigo Reis (União) quer tornar Gilmar Mendes “persona non grata” em Curitiba. “O povo curitibano é honesto e trabalhador e não merece ser desrespeitado por um Magistrado de uma corte superior que já foi colocado em suspeição por diversas investigações”, diz o texto do projeto.

Também adiado na última quarta, o projeto volta a entrar na ordem do dia da sessão de segunda-feira e precisa de maioria simples para ser aprovado.