O curso de pedagogia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) teve dois curitibanos da mesma família aprovados. Adriana e Gabriel Czelusniak, de 41 e 17 anos, passaram no vestibular e vão estudar juntos na instituição. Ambos são mãe e filho, diagnosticados com autismo.
A mãe de Gabriel afirmou que fez a inscrição para o filho treinar, já que ele havia acabado de sair do ensino médio: “A gente estava com baixa expectativa porque eu nunca tinha feito vestibular na UFPR e ele tinha acabado de sair de um colégio que não prepara os alunos para o exame”, conta.
Entre os obstáculos que os dois passaram durante o processo seletivo, um deles foi a cota disponibilizada pela universidade. Na UFPR, as cotas para pessoas com deficiência são válidas para quem fez o ensino médio em escola pública, o que não foi o caso de Adriana e Gabriel. A mãe e o filho fizeram a prova pela concorrência geral, em uma sala com menos candidatos: “A única coisa que deram foi uma sala com cerca de sete pessoas, então foi mais tranquilo”, diz.
Em cada um dos quatro subgrupos de cotas (estudante de escola pública independentemente de renda; estudante de escola pública com renda familiar inferior a 1,5 salário mínimo per capita; estudantes de escola pública pretos, pardos e indígenas independentemente de renda e estudantes de escola pública pretos, pardos e indígenas com renda familiar inferior a 1,5 salário mínimo per capita) são reservadas vagas para pessoas com deficiência, sempre partindo do mesmo critério: que tenham estudado em escola pública.
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A escolha do curso foi baseada nos interesses de Gabriel: “Ele gostava de cursos que tinham a ver com terapias e com atendimento de pessoas. No colégio ele participava de um projeto em que eles recebiam estudantes do ensino fundamental da Vila Torres para fazer atividades e ele gostava muito de ajudar”, afirma a mãe.
Como Adriana já é formada em jornalismo e cursa psicologia, ela se inscreveu no curso para acompanhar o filho e acrescentar o conhecimento na área. No dia 13 de janeiro, a UFPR divulgou a lista dos aprovados e os dois comemoraram bastante.
“Na hora da aprovação nós ficamos muito surpresos. Vimos várias vezes a lista até acreditar, depois fomos no banho de lama e ficamos muito felizes”, revela Adriana.
A UFPR não realizava o tradicional banho de lama para os calouros desde 2019, por causa da pandemia. Gabriel foi diagnosticado com autismo aos quatro anos e, apesar da vida escolar precisar de adaptações no decorrer dos anos, os dois já foram bem recebidos pelos veteranos e professores da universidade.
A caloura de pedagogia criou uma conta em suas redes sociais para falar sobre neurodiversidade, autismo, inclusão, eventos e habilidades socioemocionais. No perfil, Adriana publicou sobre a aprovação dos dois:
Alunos com autismo em instituições de ensino
A Lei Berenice Piana proíbe, desde 2012, que os colégios recusem a matrícula de alunos com autismo. Caso a inscrição do estudante com transtorno do espectro autista ou qualquer outro tipo de deficiência seja rejeitada, haverá punição com multa de três a vinte salários mínimos ao gestor escolar.
O que é o transtorno do espectro autista?
O transtorno do espectro autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades.
De acordo com a Secretaria da Saúde do Estado do Paraná (Sesa), os sinais de alerta no neurodesenvolvimento da criança podem ser percebidos nos primeiros meses de vida, sendo o diagnóstico estabelecido por volta dos três anos de idade. A prevalência é maior no sexo masculino.