Doença viral agravada pela poluição ameaça tartarugas marinhas que frequentam costa brasileira

Como está a saúde das tartarugas marinhas e qual o impacto das atividades humanas na espécie? Pesquisadores do Programa de Recuperação da Biodiversidade Marinha (Rebimar), da Associação MarBrasil, estão desenvolvendo um projeto, com patrocínio da Petrobras, para monitorar as Tartarugas-verde (Chelonia Mydas), na região do Complexo Estuarino de Paranaguá, próximo a uma importante área portuária e ocupações urbanas. As primeiras análises já indicam que alterações drásticas no habitat afetam as condições de saúde e causam agravamento de doenças do animal.

Tartaruga com caso grave de Fibropapilomatose | Foto: Divulgação REBIMAR

A ação de captura, marcação e soltura das tartarugas ocorre, principalmente, na Ilha das Cobras ou na Ilha do Mel, no Litoral do Paraná, sendo a primeira com maior concentração desses animais. A equipe vai para a água para fazer o cerco das tartarugas, que pode ser tanto no modo “espera”, em áreas onde esses animais se aproximam para se alimentar, quanto em modo de “arrasto”, captura ativa realizada próxima ao costão rochoso.

As tartarugas que costumam chegar ao litoral paranaense, em geral, são juvenis, entre dois e oito anos de idade. A quantidade de animais capturados e avaliados varia bastante em cada ação. A água turva é um desafio para os pesquisadores porque os animais têm mais facilidade de fuga quando enxergam a rede e os movimentos.

Após a captura, a equipe do Rebimar realiza a análise da espécie na própria embarcação, chamada de “ambulatório”. São avaliados parâmetros como peso, tamanho, condição corpórea, e a presença de tumores. Além disso, são coletadas amostras para análises genéticas, hematológicas e bioquímicas.

Entre as doenças mais comuns nos animais observados está a Fibropapilomatose, que forma múltiplos tumores de pele e pode também afetar órgãos internos e a reprodução. “Apesar da transmissão ser viral, existem indícios de que a formação dos tumores se manifesta nos animais que vivem em áreas poluídas, com várias atividades humanas que causam impacto, como navegação, porto e urbanização não planejada”, alerta a oceanógrafa e pesquisadora do Rebimar, Tawane Nunes.

A doença afeta as tartarugas marinhas ao longo de todo o globo e tem uma relação já comprovada cientificamente com alterações da qualidade ambiental, com despejo de efluentes, falta de oxigenação da água, poluição acústica e contaminação química. Esse conjunto de fatores, segundo os pesquisadores, torna a doença mais frequente e severa entre as tartarugas. 

Os exames realizados trazem ainda informações sobre como o organismo desses seres marinhos está reagindo diante de tantos fatores de estresse. “Temos observado níveis de linfócitos – as células de defesa – muito altos, o que é o indicador de animais que estão lutando com patógenos, organismos que podem causar doenças e que estão no ecossistema”, acrescenta a coordenadora do Laboratório de Ecologia e Conservação (LEC-UFPR) e pesquisadora do Rebimar, Camila Domit.

A observação das populações de Tartarugas-verde é importante para a coleta de dados sobre a saúde, a quantidade desses animais e sua movimentação na região, identificando áreas prioritárias para conservação e entendendo como as alterações humanas ameaçam a espécie, classificada como ameaçada de extinção.

Rastreamento

Para monitorar as tartarugas marinhas, o Rebimar faz uso de duas estratégias distintas. A primeira é uso com anilhas metálicas, que permite que o animal tenha uma identificação e seja rastreado por um longo período. A outra é o uso de dispositivos de rastreamento por satélite, porém essa tecnologia tem custo alto e tempo de duração limitado, entre quatro e cinco meses.

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