A Prefeitura de Curitiba recusou a sugestão da Câmara Municipal de retirar o Mesa Solidária do Centro da capital. O programa, que distribui refeições para pessoas em situação de vulnerabilidade social, foi alvo de polêmica nesta semana.
A proposta da Câmara é do vereador Eder Borges (PP) e sugeria que o programa fosse retirado do Centro e transferido para outro ponto da cidade. Em votação simbólica, a sugestão foi aprovada com 17 votos favoráveis e seis contrários.
Atualmente, o Mesa Solidária fica localizado na rua Barão do Cerro Azul, ao lado da praça Tiradentes, na região central da cidade.
A Prefeitura não era obrigada a acatar a proposta. Confira a nota da administração municipal no fim da matéria.
Proposta de retirar Mesa Solidária do Centro gerou polêmica
No texto da proposta, Eder Borges argumentou que o programa é “desastrado”, pois leva transtornos para o entorno da praça e para o Centro Histórico. O parlamentar afirma que comerciantes relatam que a população assistida pelo Mesa Solidária “desperdiça comida”.
“Lá não é lugar para programas como esse. Esse programa deve estar em áreas de vulnerabilidade social. Pertinho do Centro, temos a Vila Torres, ali tem pessoas que realmente precisam deste programa, e não no Centro. É mais fácil pedir esmolas do que trabalhar”, emendou.
O parlamentar informou, também, ter protocolado um projeto de lei que regulamenta a criação de uma campanha de desincentivo a esmolas. Para o vereador, a caridade “é louvável, mas está no lugar errado”:
“Os turistas que vêm a Curitiba mal podem transitar pelo Centro Histórico, que sempre teve problemas com esses ‘nóias’, como se diz, e que vêm sendo atraídos por esses programas, que os convidam a permanecer numa vida indigna, a permanecer na rua, onde têm tudo de graça, tudo de maneira fácil, e isso traz o caos para a nossa cidade”.
Alguns vereadores rebateram as falas de Borges, como o Jornalista Márcio Barros (PSD):
“[Antes do programa], tínhamos situações que eram um problema: os alimentos eram entregues nas marquises. O que era muito pior: eles se alimentavam ao lado dos sacos de lixo, dos cães e comiam com a tampa da marmita. Com o Mesa Solidária, isso mudou muito. As instituições estão dentro do restaurante que serve a alimentação. Eles [pessoas em situação de vulnerabilidade assistidas pelo programa] estão, felizmente ou infelizmente, no Centro da cidade. Não existe esta possibilidade. Isso seria uma medida higienista, tirar dali [o restaurante] para mandar para um outro bairro distante, onde eles não teriam condições de ir”.
Posicionamento da Prefeitura de Curitiba
Confira a nota da administração municipal sobre a polêmica:
A Prefeitura de Curitiba recusou a sugestão aprovada por vereadores que pedia que o programa Mesa Solidária Luz dos Pinhais, na Praça Tiradentes, no Centro, para outra região da cidade.
Lançado em 2019, o programa Mesa Solidária tem dado acesso a alimentação gratuita de qualidade e mais dignidade à população em risco social de Curitiba, em uma ação conjunta da Prefeitura, ONGs, instituições religiosas, empresas e cidadãos voluntários. O Mesa Solidária já distribuiu gratuitamente, em espaços limpos e confortáveis do município, mais de 1 milhão de refeições para moradores de rua, idosos e pessoas em extrema pobreza.
O Mesa Solidária também é uma política pública integrada do município, sendo a porta de entrada para o resgate desses cidadãos, através da Rede de Proteção Social de Curitiba, ao ofertar diversos serviços do município através da Fundação de Ação Social (FAS) e da própria Secretaria de Segurança Alimentar e Nutricional (SMSAN), responsável pela organização do Mesa Solidária.
Em abril deste ano, por exemplo, o Mesa Solidária Luz dos Pinhais, da Praça Tiradentes, ganhou espaço da FAS de apoio à população de rua e encaminhamento aos serviços sociais prestados pela Prefeitura, como Cadastro Único (CadÚnico), CRAS, CREAS, acolhimento e cursos profissionalizantes.
Já participaram do Mesa Solidária 123 entidades sociais, grupos sociais e de voluntários. Considerando a média de dez voluntários por organização, é possível afirmar que mais de 1.200 pessoas já se voluntariaram junto ao programa que garantiu, em média, mais de mil refeições por dia nos três espaços: o Restaurante Popular da Praça Rui Barbosa (Centro), o Mesa Solidária Luz dos Pinhais, atrás da Catedral (Centro), e o ponto na Escola de Segurança Alimentar e Nutricional Patrícia Casillo, no Viaduto do Capanema, entre o Centro, o Jardim Botânico e o Rebouças.