SÃO PAULO (Reuters) – A indicação do presidente Jair Bolsonaro para a troca de Roberto Castello Branco pelo general Joaquim Silva e Luna na presidência da Petrobras não possui impacto de crédito imediato na empresa, disse nesta segunda-feira a agência de classificação de riscos S&P.
A agência afirmou que, embora o cenário-base considerado para a petroleira estatal seja de manutenção da política de preços de paridade de importação dos combustíveis, os ratings atribuídos à Petrobras –atualmente BB-, com perspectiva estável– já embutiam riscos de potencial influência do governo.
Influenciada por fatores como o preço do petróleo no mercado internacional e a cotação do dólar, a política de paridade foi estabelecida em 2016, no governo do ex-presidente Michel Temer.
Segundo a agência, a mudança na política de preços poderia prejudicar a rentabilidade e o fluxo de caixa da estatal.
Para a S&P, porém, o perfil de crédito individual da Petrobras reflete uma visão sólida da escala da empresa e de seu negócio de exploração e produção, em conjunto com medidas de redução de custos e desinvestimentos de ativos não estratégicos.
A agência também vê uma liquidez forte na petroleira e projeta uma redução no indicador dívida sobre Ebitda para patamar entre 3 vezes e 3,5 vezes em 2021, ante cerca de 4 vezes em 2020.
“Mesmo se houver uma mudança na direção e na estratégia de preços da Petrobras, nossos ratings da empresa continuariam a refletir o rating soberano, uma vez que o governo federal detém seu controle”, acrescentou a S&P em comunicado.
A indicação de Silva e Luna para o comando Petrobras foi anunciada na noite de sexta-feira por Bolsonaro, após atritos entre o presidente e o atual CEO da empresa, Roberto Castello Branco, em temas relacionados a preços de combustíveis e caminhoneiros.
Em entrevista à Reuters no sábado, Luna disse que “não há como ter interferências nessa política de preços”, acrescentando estar ciente de que interferências na gestão da petroleira no passado deram errado.
Ainda assim, as ações da Petrobras na B3 operavam em queda de cerca de 20% nesta segunda-feira, após agentes financeiros enxergarem o movimento de Bolsonaro como uma ingerência governamental na empresa.
(Por Gabriel Araujo; edição de Roberto Samora)