Vidas transformadas: o poder das doações através de histórias inspiradoras

Em 2022, 84% dos brasileiros maiores de 18 anos doaram e apoiaram uma causa

Celebrado no fim de novembro, o Dia de Doar marca um movimento mundial chamado #GivingTuesday (terça-feira de doação). O ato de solidariedade, que pode ser realizado de inúmeras formas, pode mudar a vida de diversas pessoas. Um levantamento feito pela Pesquisa Doação Brasil mostra que 84% dos brasileiros maiores de 18 anos doaram ao menos uma vez em 2022.

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Reprodução/Adobe Stock

O estudo apontou o valor estimado do total de doações feitas pelos brasileiros em 2022: R$ 12,8 bilhões. Além das divulgações de campanhas e iniciativas que visam ajudar quem precisa, é necessário propagar as histórias de quem recebe as doações e depende do ato para viver.

O levantamento apontou as principais causas procuradas para doações: 

  • Crianças/causa infantil: 46%;
  • Saúde: 30%;
  • Combate à fome: 29%;
  • Situações emergenciais: 13%;
  • Idosos: 11%;
  • População de rua/pessoas em situação de rua: 10%.

Doações que fazem a diferença na saúde infantil

A causa infantil e os casos relacionados à saúde são os que mais motivam e incentivam as doações, conforme a pesquisa. Nesse sentido, em Curitiba, capital do Paraná, foram realizados 504 transplantes entre janeiro e julho deste ano, segundo a Secretaria Municipal da Saúde (SMS). A cidade conta com sete centros transplantadores: os hospitais de Clínicas, Cajuru, Evangélico Mackenzie, Erasto Gaertner, Pequeno Príncipe, Santa Casa e São Vicente.

A vida de Wesllen Nunes Soares, de 17 anos, foi salva por causa da doação de um órgão: ele estava com início de infarto no dia 3 de novembro de 2022 e precisou ser levado para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba. Ele foi entubado e precisou do uso do dispositivo de oxigenação por membrana extracorpórea [ECMO, na sigla em inglês] por 16 dias. Na sequência, ele entrou na fila de transplante de coração com prioridade nacional.

Em meio aos jogos do Brasil na Copa do Mundo de 2022, no dia 24 de novembro, a família foi notificada de que o coração para o Wesllen havia chegado: “As pessoas não sabem a importância que é a doação, de quantas vidas que podem salvar […] É importante que as pessoas tenham conscientização sobre a doação de órgãos”, conta Raquel Aparecida Nunes, mãe de Wesllen. O atendimento do paciente ocorreu através do Sistema Único de Saúde (SUS), ou seja, não houve custos.

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Momento em que Wesllen saía do hospital após receber alta. (Reprodução/Arquivo Pessoal)

De acordo com o hospital, os doadores falecidos pediátricos são muito raros. Por isso, existe a angústia da espera por um doador compatível. Do momento em que é identificada a morte cerebral até a efetivação da doação, é preciso mobilizar equipes rapidamente e ter aprovação da família.

“Neste momento, você depende de uma decisão ágil de alguém que está passando por um momento extremamente difícil, que é a morte de um ente querido. Isso tem que ser respeitado, inclusive entendendo as recusas”, destaca o médico responsável pelo Serviço de Transplante Hepático do Hospital Pequeno Príncipe, José Sampaio Neto.

A família de Matheus Tavares Silva Cardoso, de quatro anos, veio de Montes Claros de Goiás (GO) até Curitiba para realizar um transplante de rim em julho de 2021. Segundo Mônica Aparecida Silva Cardoso, mãe do paciente, o problema de saúde dele foi descoberto já na gravidez. Ele nasceu com 38 semanas e precisou de internação na UTI Neonatal.

A diálise peritoneal (tratamento que ocorre dentro do corpo do paciente, com auxílio de um filtro natural como substituto da função renal) foi realizada quando ele tinha apenas oito dias de vida e, ao completar 24 dias, ele fez a desobstrução da válvula superior. O menino já havia perdido a função renal e passou para hemodiálise em janeiro de 2022, conforme relato de Mônica. Meses depois, em dezembro do mesmo ano, Matheus foi chamado para realizar o transplante de rim aos três anos de idade. 

“Tinha que ter uma corrente de conscientização, sabe? Porque a fila ainda é enorme e muitas pessoas não têm essa visão […] A importância da doação é tão grande porque mesmo perdendo uma pessoa o órgão dela pode pode dar vida para outras”.

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Dias antes da alta, Matheus já estava sorridente no hospital. (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Mãos estendidas: combate da desigualdade com generosidade

Causas que ainda não contam com maior apelo junto ao público em geral, o “combate à fome”, “situações emergenciais” e “população de rua/pessoas em situação de rua” ainda precisam de mais apoio, divulgação e interesse. Afinal, questões sociais como desigualdade econômica, pobreza extrema e até drogadição estão na própria natureza desses tópicos.

Michel de Barros Doria, de 52 anos, é coletor de recicláveis e recebe doações de cesta básica e materiais de higiene/limpeza da SOS Vila Torres, entidade presta apoio para seis regiões de Curitiba nas vilas Torres, União, Britanite, Pontarola, Ilha e Pantanal.

“O número médio de famílias que atendemos gira em torno de duas mil. Além dessas famílias, ajudamos também três cozinhas comunitárias. São doações de alimentos e materiais de higiene. Também oferecemos gratuitamente os cursos de capacitação para o emprego”, diz Padre Parron, voluntário da SOS Vila Torres.

Michel, separado da ex-esposa desde 2019, recebe as doações da SOS Vila Torres há quatro anos. O catador de recicláveis conta que, todos os dias, começa a trabalhar às 7h da manhã e passa o dia colhendo os itens. “Doação não está mais tendo para ninguém quase […] a doação tá zerada, né? Ninguém ganha nada”, reforça. 

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Organização Não Governamental (ONG) doa alimentos e materiais de higiene para quem precisa. (Reprodução/SOS Vila Torres)

A capital paranaense é a sexta cidade do Brasil com maior porcentagem de moradores em situação de rua. Ao todo, são 3,4 mil pessoas, segundo o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) — 1,5% da população total da cidade. O dado aponta a necessidade de conscientização quanto à doação, de qualquer item que seja, em Curitiba. Conforme Michel, o ato de solidariedade está precário:

“Eu já tive sorte de, algumas vezes, ganhar uns ‘trocados’ na rua, apenas. Uma senhora perguntou, uma vez, se tinha Pix e eu passei meu CPF para ela. Cheguei em casa, fui ver e tinha R$ 500 reais na minha conta. Foi justamente quando eu precisava de dinheiro, mandei tudo para os meus cinco filhos. Eu fiquei com nada, mas ela me fortaleceu quando eu mais precisava”, finaliza Michel.

As doações de alimentos e materiais de higiene também mudam a vida do coletor de recicláveis Carlos Benedito da Silva, de 54 anos. Ele recebe os itens da SOS Vila Torres há cinco anos e depende das ações da ONG para sobreviver.

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Michel e Carlos, respectivamente, recebem doações de cesta básica e higiene. (Reprodução/Arquivo Pessoal)

“As doações fazem muita diferença na minha vida […] Eu tenho três filhos, mas eu trabalho com reciclagem e a ação da SOS Vila Torres ajuda muita gente. As cestas fazem uma diferença danada na nossa vida”, diz. Apesar dos filhos, Carlos passou por um divórcio e atualmente mora sozinho. As pessoas podem ajudar como voluntárias e doando alimentos não perecíveis na Rua Guabirotuba, número 770, Vila Torres.

A Pesquisa Doação Brasil também fez o levantamento de quais foram os tipos de doação mais frequentes realizadas no país em 2022: cerca de 75% dos brasileiros doaram bens/alimentos/materiais; 48% dinheiro; 36% em ONGs e/ou projetos socioambientais; e 26% fizeram doações em trabalhos voluntários.

A forma de pagamento mais usada nas doações foi o Pix, método usado por 39% dos doadores. Outro destaque do estudo foi a doação por arredondamento de compras, que era utilizado por menos de 1% dos doadores em 2020, e em 2022 foi mencionado por 11%.

Conforme dados do OngsBrasil, que busca melhorar a divulgação na internet do trabalho de instituições sociais brasileiras, Curitiba conta, atualmente, com 453 ONGs. A lista completa com as entidades com seus respectivos contatos podem ser conferidos neste link.

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