Por Vanessa Nogueira e Gustavo Barossi (com supervisão de Gabriel Sartini)
O Paraná vem sofrendo aumentos expressivos no preço da gasolina, trigo, fertilizantes e algumas peças automotivas importadas como consequência da guerra entre Rússia e Ucrânia. A invasão russa, que começou em 22 de fevereiro e não tem previsão de algum desfecho, está afetando o planeta inteiro, a começar com a crise econômica geral.
De acordo com Wilson Bill, presidente do Sindicato das Empresas de Reparação de Veículos do Paraná (Sindirepa/PR), a guerra apenas agravou os problemas já existentes nas montadoras e oficinas. “O valor está flutuando por conta do dólar, mas o problema maior é a questão da falta de peças”, diz o presidente.
A escassez de produtos é um problema desde 2021, mas com o conflito, a economia paranaense acabou ainda mais afetada. Bill explica, por exemplo, que caso um motorista precise de uma peça que não está disponível, ele teria que esperar pelo menos 90 dias até a chegada do produto.
“O pneu, por exemplo, antigamente você comprava por um valor x, atualmente o valor está quase quadruplicando”, explica. O aumento no preço das peças está relacionado diretamente à falta de alguns itens no mercado e também ao preço da gasolina, o que impacta diretamente no valor do frete.
Os empresários também enfrentam problemas na hora de encomendar novos produtos. “Por exemplo, em vez de chegar 10 peças, chega apenas uma, e às vezes chega errado e de má qualidade”, comenta Bill. As peças vêm de vários países, mas a maioria é importada da China, que está em destaque ao lado da Rússia.
O valor da gasolina, afetado com a invasão russa, também atrapalha os negócios. Cesar Luiz Lançoni Santos, da diretoria da Sincopeças Paraná, comenta que a guerra, por enquanto, só impactou no frete, mas outros itens ainda não tiveram seus preços alterados. No entanto, espera-se que daqui 10 dias a tendência seja aumentar não só em peças, mas no geral.
Produtos em grande quantidade só são viáveis com o navio sendo o meio de transporte. Mas até isso vira um problema. A demora no deslocamento dos produtos e o frete altera todos os valores. “Um contêiner [da China], que antigamente custava US$1.200, agora custa entre US$15.000 a US$30.000”, exemplifica Bill.
Eduardo Saldanha, doutor e mestre em Direito Internacional, especialista em relações internacionais e professor da Escola de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), comenta sobre o problema das indústrias e a falta de peças: “A China está se movimentando para ocupar os espaços deixados pelo mercado russo, dessa forma ocorre uma oscilação de preço imediata”, destaca o professor. “Neste caso há uma possibilidade de adaptação de mercado muito mais rápida de outros exemplos citados acima. A indústria sofre com o fornecimento e pode haver uma redução do ritmo produtivo, o que causa um impacto econômico, neste caso as substituições aconteçam mais rápido do que imaginamos”.
Saldanha ainda confirma que se a Rússia não consome o petróleo de outras regiões, há um impacto direto no preço do barril e, consequentemente, no valor dos combustíveis. “Quando o mercado internacional tem uma perspectiva de perda, de diminuição de PIB de alguns países, de diminuição da circulação de riquezas, isso impacta no risco. E o impacto no risco aumenta o preço dos produtos – não somente dos combustíveis, mas da farinha, do pão, dos produtos da cesta básica. Isso porque a Rússia sempre foi um grande exportador de ureia, utilizada para fertilizantes (usados na agricultura, cujo preço mais alto afeta o custo agrícola).” explica o professor. “Há também o custo de frete, que hoje na Europa aumenta, devido ao seguro. Então todos esses pequenos pontos vão afetar diretamente a composição dos preços internacionais.”.