Pequenos negócios de Curitiba fazem grandes ações para comunidades carentes

Os pequenos negócios e os profissionais autônomos dão vida aos 75 bairros de Curitiba, com empreendimentos que podem mudar a realidade de cada morador da capital paranaense. Segundo dados da Receita Federal do Brasil (RFB), do total de estabelecimentos com registros na cidade, 41,1% correspondem a Microempreendedores Individuais (MEI) — totalizando 165.504 em 2024.

As informações da RFB também indicam que 42,2% são Microempresas (ME), com 169.642 estabelecimentos. Além disso, 4,66% fazem parte dos registros de Empresas de Pequeno Porte (EPP), dado equivalente a 18.752 empreendimentos abertos em Curitiba. Em todo o Brasil, os pequenos negócios compõem 95% das empresas formais, conforme estimativa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Nesta perspectiva, com o considerável número de microempreendedores em Curitiba, é importante ressaltar o impacto que os pequenos negócios geram direta ou indiretamente na população da cidade. Diversos estabelecimentos e profissionais autônomos realizam ações que transformam significativamente a vida dos curitibanos.

Maquiadora oferece cursos de qualificação profissional para pessoas em vulnerabilidade social

Desde abril de 2024, Gisele Rocha Maggi oferece curso de maquiagem profissional. Além de maquiadora e arquiteta, ela é professora voluntária e dá aulas presenciais gratuitas para pessoas em situação de vulnerabilidade social em Curitiba.

Gisele, que é MEI e trabalha como maquiadora profissional há dois anos, já deu aula para 21 alunas. Atualmente, ela ministra o curso gratuito para mais 18 aprendizes: são quatro encontros de quatro horas cada. Os produtos de beleza são fornecidos por outra grande empresa do setor de cosméticos.

No fim do curso, a maquiadora entrega certificados de conclusão para todas as alunas da turma e faz a diferença na formação profissional de cada uma. Além disso, ela mantém contato com as aprendizes e fica à disposição para qualquer dúvida delas.

Uma das alunas do curso, Adriana Cláudia, de 30 anos, conta que tem o propósito de trabalhar como maquiadora profissional há muitos anos. “Meu sonho sempre foi fazer um curso, só que não tinha condições para pagar. Até que apareceu essa grande oportunidade”, destaca.

“Sempre vi a maquiagem como um recomeço […] como minha mãe não tem as sobrancelhas, ela pede para eu a maquiar pois se sente incomodada. Consigo trazer a beleza para ela”, reforça Adriana.

Com a realização do curso, Adriana, que mora no bairro Prado Velho com a mãe e o pai, já pensa em começar a carreira de maquiadora e dar início ao seu empreendimento. “Foi uma experiência muito boa, várias portas vão se abrir. Gisele é uma ótima profissional, tive a honra de aprender com ela”.

As aulas gratuitas também foram importantes na formação profissional de Emilly Ribeiro, de 20 anos. A jovem, que mora com os filhos no Prado Velho, também fez os cursos para se especializar na área.

“Sempre quis aprender a fazer maquiagem. Com essa oportunidade, aprendi novas técnicas e treinei com diversas pessoas ao vivo. Amei a experiência”, diz Emilly. A jovem também pensa em, futuramente, virar profissional na área.

Associação dá aulas de karatê de graça para crianças carentes

A Associação de Artes Marciais Karatê Shubu-Dô, em Curitiba, disponibiliza seus professores para o projeto que oferece aulas gratuitas para crianças carentes. A empresa, fundada pelo Grão-Mestre Edson Carlos de Oliveira, tem sua sede desde 1980 no bairro Boqueirão e transforma a realidade de diversas famílias.

De acordo com Eliandra Oliveira, secretária e proprietária da empresa, a unidade também atua como academia com aulas de karatê. Em parceria com a Associação Santa Amélia, eles dão aulas gratuitas da arte marcial para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. O projeto acontece no bairro Fazendinha.

Além disso, a Associação de Artes Marciais Karatê Shubu-Dô também realiza eventos beneficentes, doações e proporciona bolsas para crianças em famílias de baixa renda. “Trabalhamos com crianças a partir de 3 anos até idosos com 78 anos”, diz Eliandra.

O projeto de aulas gratuitas de karatê acontece aos sábados, das 13h às 15h e das 19h30 às 21h30. São duas turmas com, em média, 20 crianças e adolescentes carentes — em sua maioria, estrangeiras. Segundo Paulo Timoteo, voluntário da Associação Santa Amélia, a ação já ocorre há três anos. Neste período, ao menos 65 alunos participaram do curso.

Alunos das aulas gratuitas de karatê também ganham cestas básicas

Lislaine dos Santos Xavier é mãe da pequena Ísis, de oito anos. A criança participa das aulas da modalidade nas tardes de sábado desde o começo deste ano. “Ela seguiu os passos do pai, que também já fez karatê […] ela achou muito legal o fato de ter aula com uma professora mulher”, relata.

De acordo com Lislaine, as aulas ajudam no desenvolvimento de Ísis. “Ela precisa de exercícios físicos e realizar atividades diferentes porque ela tem um déficit de atenção, então está sendo maravilhoso”, diz.

Além do curso de karatê, Lislaine recebe cestas básicas da Associação de Artes Marciais Karatê Shubu-Dô. A empresa fornece kits com alimentos para diversas famílias. As doações ajudam bastante a mãe de Ísis, que mora com o marido no bairro Fazendinha — o casal tem cinco filhos. 

Oficinas gratuitas de costura em comunidades formam novos microempreendedores

Day Lima é costureira e deu início ao projeto de ser professora há sete anos. A microempreendedora se formou em Design de Produto, porém, após 10 anos na área, ela decidiu parar. O motivo da pausa foi para seguir um sonho que está com ela desde criança: a costura. 

Em 2017, Day deu o primeiro passo e abriu seu ateliê. Com o sonho de ser professora de costura, que sempre esteve presente na vida dela, ela montou sua primeira oficina. “Sempre fui muito voltada para causas sociais. Acredito que a pessoa não precisa ter dinheiro, precisa ter vontade. Assim, ela consegue tudo”, diz.

Além de dar aulas particulares e ter seu ateliê, Day é professora: ela dá oficinas de costura gratuitas e artes visuais para a comunidade Santo Inácio, em Curitiba.

A professora afirmou que a turma chega a até 15 alunos. São duas aulas por mês, aos sábados, das 9h às 13h. “Após o curso gratuito, continuo dando consultoria. Não existe ex-aluna para mim. Sempre nos tornamos amigas”, finaliza Day.

As aulas gratuitas da microempreendedora vão abrir portas para Cliciane Zaguini, de 41 anos. “O curso foi muito importante para mim. Aprendi não só a costura, mas sim uma profissão, a qual vai me proporcionar novos trabalhos”, conta. Ela mora com o marido e o filho no bairro Uberaba, em Curitiba.

Cliciane afirmou que tinha vontade de aprender a costurar desde quando era pequena, por influência de sua mãe. “Aprendi a desenvolver meu profissionalismo na área. Vou aplicar meus conhecimentos e buscar empregos como costureira”, relata a aluna.

Atualmente, Cliciane vende comida caseira com a irmã. Agora que terminou o curso de costura, ela disse que tem o desejo de virar uma profissional na área. “A Day é uma excelente professora, sou encantada pelas técnicas e pelas aulas dela”, conta.

Fundamentais para fazer a economia brasileira girar, os pequenos negócios vão muito além disso. A proximidade com o público, o conhecimento da realidade do seu bairro e a vontade de ir além tornam os microempreendedores pontos essenciais no desenvolvimento da sociedade.

Ao compreender o cenário onde estão inseridos e as dificuldades encontradas pelas comunidades espalhadas por Curitiba, eles se tornam peça imprescindível na formação de cidadãos mais conscientes e preparados para os desafios do dia a dia.