De árvore para produtos de madeira: o cultivo florestal como aliado na fabricação sustentável

O Paraná é líder na produção nacional de lenha da silvicultura, prática que tem como objetivo o cultivo e conservação de florestas. De acordo com dados da pesquisa Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura (PEVS), o estado totalizou 13,8 milhões de metros cúbicos cortados em 2023, ou seja, um quarto do volume de todo o Brasil.

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O Paraná é destaque no setor de florestas plantadas. (Foto: APRE)

O destaque do Paraná no setor de florestas plantadas enfatiza o papel do estado na busca por sustentabilidade, sendo um dos principais produtores florestais do país (com foco para diversos produtos madeireiros e do extrativismo vegetal). O levantamento da PEVS foi divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 26 de setembro de 2024.

A pesquisa também revela que o Paraná é o maior fabricante de madeira em tora para outras finalidades, somando 38,1% da produção nacional. Já em todo o Brasil, para se ter um parâmetro, o valor da fabricação florestal atingiu recorde de R$ 37,9 bilhões em 2023. A silvicultura correspondeu a 83,6% desse valor (somando R$ 31,7 bilhões no ano passado).

O setor de florestas plantadas é um aliado no combate às mudanças climáticas, com o objetivo de construir um futuro sustentável. Nesta perspectiva, é fundamental ressaltar que o segmento também é importante para a economia do Paraná: o estado conta com empresas focadas na causa ambiental, o que gera inúmeros benefícios sociais e ao ecossistema.

A silvicultura como protagonista do setor florestal no Paraná

A utilização da madeira já se tornou tradição no Paraná, de acordo com Ailson Loper, diretor executivo da Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (APRE). Ele explica que o setor florestal no estado conta com diversas cadeias produtivas:

“Nós temos uma produção consolidada de madeira, com uma cultura que ocupa cerca de 4% do estado. Além disso, a região consegue ter um desempenho econômico, social e ambiental de destaque”, diz o diretor executivo da APRE.

Ao destacar sobre a importância da silvicultura, Ailson definiu a prática como protagonista do setor florestal no Paraná. “É uma troca de matérias-primas […] Além disso, é capaz de fixar o carbono e utilizar a água e a energia de forma eficiente. Quando se trabalha com madeira, é muito melhor do que os outros componentes”, reforça.

Entre as principais características do setor florestal paranaense, está a capacidade do fornecimento de mais de uma esfera industrial. Ou seja, o segmento resulta em uma fábrica diversificada de produtos, aplicações industriais e serviços. Além disso, o Paraná conta com 16,5% de todos os trabalhadores do segmento florestal brasileiro.

Conforme o diretor executivo da APRE, o Paraná tem duas culturas importantes no setor florestal: o Pinus e o Eucalipto (presentes em 98,8% de todas as áreas destinadas à silvicultura no estado). A instituição totaliza 45 empresas associadas, que representam a maior parte do setor de árvores plantadas do Paraná. “A área nativa dentro das florestas das empresas associadas da APRE, que trabalham com florestas plantadas, é extremamente significativa. O setor de base florestal tem mais área conservada que qualquer outro setor produtivo no Brasil”, diz.

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O Pinus e o Eucalipto estão presentes em 98,8% das áreas destinadas à silvicultura no Paraná. (Foto: APRE)

Para cada hectare plantado nas empresas associadas, existe aproximadamente outro hectare de floresta nativa destinada à conservação. As companhias concentram cerca de 50% da área plantada no Paraná, com 481 mil hectares de área conservada.

“Quanto mais madeira plantada é colocada, isto é, quanto mais a gente planta, conduz, colhe e replanta para por a matéria-prima de origem renovável no mercado, menor é a necessidade de buscá-la na floresta nativa”, afirma Ailson. Ou seja, a silvicultura diminui a pressão sobre as árvores nativas.

Associada à APRE, a empresa Berneck tem o cultivo florestal do Pinus como aliado na produção sustentável – o Paraná é responsável por 55% do volume da espécie produzida no país. De acordo com a companhia, 100% dos produtos são provenientes de cultivos florestais.

“Os resíduos do processo de produção (casca do Pinus e o pó da madeira) que seriam descartados no meio ambiente são utilizados para a produção de energia térmica e vapor através da queima de biomassa”, explica a empresa. A energia renovável corresponde a 60% de uso nos processos industriais da empresa, poupando recursos naturais.

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O Paraná é responsável por 55% do volume de Pinus produzido no Brasil. (Foto: APRE)

Além do Pinus e o Eucalipto, outras espécies também são cultivadas em áreas utilizadas para a silvicultura no Paraná. A prática de plantar, colher e replantar florestas para propósitos comerciais, que gera sustentabilidade dos recursos naturais e reduz o impacto ambiental nas florestas nativas, é adotada não só por grandes companhias, mas por empreendedores paranaenses. 

Casal usa “Árvore do Futuro” oriunda de florestas plantadas para fabricar produtos

Os paranaenses Rafaela Secchi e Ruan Maffezzolli são donos da Caracolí Wooden Surf Company (com sede em Curitiba e em São Paulo). A companhia vende produtos fabricados, predominantemente, a partir de uma madeira chamada Paulownia. De acordo com o casal, os materiais são produzidos com o menor impacto ambiental possível para aprimorar, cada vez mais, a sustentabilidade.

A escolha da árvore, de acordo com Ruan, se deve ao fato dela ser considerada a mais sustentável do mundo. A Paulownia é chamada de “Árvore do Futuro” pois cresce até seis metros por ano. Além disso, ela consome dez vezes mais dióxido de carbono do que qualquer outra árvore e emite três vezes mais oxigênio que plantas convencionais.

“As madeiras são provenientes de reflorestamento. Ou seja, a gente não derruba a mata nativa porque a árvore não é natural do Brasil, mas é plantada aqui. Tem uma consciência ambiental super importante nesse processo”, diz Ruan.

O casal utiliza a madeira da árvore, que vem de florestas plantadas no Paraná, para a fabricação de seus produtos. Ou seja, a Paulownia é reflorestada através do plantio, colheita e replantio para fins comerciais. Entre os itens que Rafaela e Ruan fabricam para vender, estão pranchas de surfe e “Surf Home Decor” (pranchas em diversos tamanhos e modelos que podem ser usadas para decoração). O resíduo, ou seja, a serragem da construção da prancha, é biodegradável — podendo ser utilizado como adubo orgânico, reciclado ou digerido por insetos.

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Rafaela e Ruan também realizam workshops sobre como construir uma prancha de surfe de madeira. “A gente tenta sempre conscientizar as pessoas através do nosso trabalho. Assim, elas podem criar esse espaço dentro delas para uma escolha mais consciente, que são as pranchas de madeira”, reforça Ruan. Atualmente, a maioria das pranchas são fabricadas com o “grande vilão” dos oceanos: o plástico, como o poliestireno expandido (EPS ou Isopor) ou o poliuretano (PU).

Como a Paulownia, ao ser plantada em florestas, contribui para a sustentabilidade?

A silvicultura é a ciência do cultivo de florestas — que são compostas de árvores plantadas. O Dicionário de Termos Florestais, lançado em 2018 pela Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná (Fupef), com apoio da APRE, define floresta plantada como uma “área florestal contínua composta por espécies nativas ou exóticas, ou estabelecida por sementes ou outro material vegetativo, manejados para fins econômicos, sociais e ambientais”.

De acordo com dados de 2022 da APRE, o Paraná conta com 1,17 milhão de hectares plantados com árvores para fins comerciais. Rafaela e Ruan usam a Paulownia para produzir e vender seus produtos sustentáveis: mas, afinal, porque ela é conhecida como a “Árvore do Futuro”?

Alessandro Camargo Angelo, professor na Universidade Federal do Paraná (UFPR) que atua no Departamento de Ciências Florestais da instituição, afirmou que a espécie Paulownia tomentosa (Scrophulariaceae), conhecida como “Kiri”, é originária da região subtropical da China. Ele explicou, ainda, que a espécie é cultivada no Paraná e em outras regiões do Brasil.

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Árvore da espécie Paulownia, considerada a mais sustentável do mundo. (Reprodução/Adobe Stock)

“A espécie possui potencial para crescer de forma muito rápida […] A madeira da espécie é muito leve, inodora e possui boas propriedades físicas e mecânicas. É empregada na fabricação de produtos diversos”, reforça o professor, explicando o motivo do apelido da Paulownia de “Árvore do Futuro”.

Alessandro esclarece que a Paulownia é conhecida como a árvore mais sustentável do mundo devido ao crescimento vertiginoso da espécie associado à composição de suas folhas, que são dotadas de 3% de nitrogênio. Além disso, o professor afirmou que a espécie prefere regiões com temperaturas entre 24°C a 30°C.

O cultivo florestal se consolida como um forte aliado na fabricação sustentável de produtos de madeira. Ao unir práticas de manejo responsável e inovações, o setor contribui para a preservação ambiental, diminui a pressão sobre florestas nativas e gera desenvolvimento econômico. 

Além disso, ao promover a regeneração contínua das áreas cultivadas, o cultivo florestal garante a produção a longo prazo, equilibrando a necessidade de crescimento industrial com a conservação dos recursos naturais. O futuro da madeira sustentável, portanto, passa pelo fortalecimento dessas práticas, que representam um caminho promissor para a bioeconomia no setor florestal do Paraná.

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