Área demolida para novo terminal do Capão da Imbuia gera insegurança aos moradores

Em 2023, a Prefeitura de Curitiba avançou uma etapa do projeto do novo terminal do bairro Capão da Imbuia, na Regional Cajuru: as casas localizadas na quadra cercada pela Avenida Presidente Affonso Camargo e a rua Nivaldo Braga foram demolidas para a construção do novo local, que fica ao lado do atual terminal.

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Espaço do novo terminal, em 14/12/2023. Foto: Luana Lopes/Massa News

Meses após o início das demolições, no entanto, moradores das casas nos arredores da área relatam que o local está inseguro, passando por invasões e abrigando usuários de drogas.

A quadra entre a avenida principal e as ruas Nivaldo Braga, João Bientinez e Professora Olga Balster tinha 22 casas que começaram a ser demolidas por volta de maio deste ano. Para a demolição, os moradores das residências foram desapropriados e receberam indenização.

Porém, por conta de problemas de documentação ou discordância do proprietário, a demolição ocorreu aos poucos. Em dezembro de 2023, ainda há cinco casas ‘de pé’, aguardando os devidos processos legais.

E os problemas de insegurança começaram logo após o início das desocupações, como conta Amanda Baptista, moradora de uma casa na rua João Bientinez, logo em frente ao local desapropriado.

Em entrevista ao Massa News, ela diz que criminosos passaram a entrar nas casas que estavam vazias antes de serem demolidas e, depois, nas residências ao redor.

“Começou bastante problema, ladrão entrando nas casas, assalto, até que entraram aqui em casa. Sendo que eu tenho segurança, eu tenho câmera, eu tenho alarme”, afirma.

Além dos assaltos, as casas desocupadas foram invadidas por usuários de drogas e viraram depósito de lixo. Após a invasão, Amanda colocou cerca elétrica para tentar evitar os crimes. Vizinhos também passaram por furtos e roubos de botijão de gás e fiação.

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Usuários de drogas fazem moradia em casas desocupadas. Foto: Arquivo pessoal

Durante os últimos meses, Amanda fez dezenas de reclamações no sistema Curitiba 156, pedindo que a Guarda Municipal, que fica na Rua da Cidadania do Cajuru, em frente à área demolida, patrulhe a região.

“Tem dois carros da Guarda Municipal e eles não fazem ronda, eles não andam pelo bairro. Dificilmente. De todas as vezes que eu protocolei pedido, vi apenas uma vez eles andando na rua”, conta.

E a insegurança não é o único problema. De acordo com Amanda, a sujeira causada pela demolição e o depósito de materiais de outras obras na região incomoda os moradores.

“A Prefeitura está vindo aqui fazer descarga de terra, de barro, de materiais de construção de outras obras. É trator a toda hora passando, sujando a rua. A rua vive suja. A minha casa, de uma cor clara, está imunda. Está bem ruim. E agora o mato está tomando conta também desse terreno”, diz.

Moradora deixou o local por insegurança e segue sem receber indenização

O projeto do novo terminal do Capão da Imbuia era estudado há mais de dez anos por vários mandatos de prefeitos da capital paranaense, e foi finalmente oficializado em dezembro de 2021, quando a Prefeitura de Curitiba assinou o contrato do financiamento junto ao New Development Bank (NDB) para a implantação do Ligeirão Leste-Oeste. 

Meses antes, em abril de 2021, foi assinado o decreto de desapropriação. Para isso, a prefeitura ofereceu indenização aos moradores, que precisaram buscar novas casas.

Mas nem todos os processos das 22 casas foram concluídos, seja por discordância dos moradores ou problemas na documentação. Um dos casos é o da família da publicitária Fabiana Jansen, que precisou deixar a casa antes de receber a indenização e viu a casa ser demolida devido à insegurança da região.

A residência, localizada na rua João Bientinez, pertencia a Affonso Camargo Filho e foi comprada pelo avô de Fabiana em 1958. O pai da publicitária nasceu naquela casa e viveu lá mais de 30 anos com sua família.

Mas o imóvel não chegou a ser registrado no nome do avô de Fabiana.

“Meu avô comprou, mas não fez o registro. Então, no cartório, a casa ainda está no nome do antigo dono, mesmo a gente tendo todos os comprovantes que a casa era do meu avô, que ele comprou. Esses documentos existem”, conta.

Desde que a Prefeitura oficializou o processo de desapropriação para construção do novo terminal do Capão da Imbuia, a família entrou na Justiça com uma ação de usucapião, que corre desde 2021 e ainda não foi resolvida.

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Casa da família de Fabiana Jansen no início dos anos 2000. Foto: Arquivo pessoal

Quando ocorreram as primeiras demolições, a casa da família de Fabiana, que ainda estava em pé pelo problema na documentação, foi alvo dos bandidos.

“Criminosos começaram a invadir as casas com a demolição, e isso começou a acontecer esse ano na casa que era dos meus pais. Eles entraram lá de madrugada, invadiram os fundos, roubaram coisas da gente. De dia mesmo também, quebraram as telhas, estavam entrando lá a todo momento. Eu fiz boletim de ocorrência e avisei a Prefeitura, mas nada foi feito”, conta a publicitária.

A casa sofreu várias invasões até a morte do pai de Fabiana, em julho deste ano. Ela conta que o processo de documentação da casa e a incerteza do futuro o deixaram deprimido. E a insegurança na região continuou.

“Após o falecimento dele, as coisas só pioraram. Porque daí a minha mãe ficou sozinha na casa. E aí ficou inviável ela, que é uma senhora de 68 anos, continuar morando ali”, afirma Fabiana.

Com os criminosos invadindo a residência até mesmo durante o dia, a mãe de Fabiana se mudou em agosto. E o local foi invadido mais uma vez, até que a Prefeitura de Curitiba adiantou a demolição, mesmo não fazendo o pagamento da indenização. Nesta nova invasão, os criminosos quebraram a casa, furtaram objetos de valor que ainda estavam e deixaram rastros de destruição.

“A gente deixou a casa toda fechada. Os bandidos entraram, roubaram tudo e destruíram a casa. Com isso, a Prefeitura disse que ia demolir, mesmo não tendo feito pagamento, por questões de segurança da população do bairro”, diz. “E a gente está nisso, minha mãe morando de aluguel, nossa casa inteiramente destruída e não fomos pagos ainda”.

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Foto: Casa foi invadida e destruída por criminosos. Até as janelas foram roubadas. Foto: Arquivo pessoal

Fabiana conta como o processo afetou a sua família.

“Foi muito triste tudo isso, tanto o dano material como emocional. Agora estamos aguardando essa indenização. Não sabemos de prazos, se serão meses ou anos. Por mais que a documentação não estivesse certa, a casa sempre foi da minha família”.

Prefeitura colocará tapumes na área de construção do novo terminal do Capão da Imbuia

O Massa News entrou em contato com a Prefeitura de Curitiba para um posicionamento a respeito da insegurança na área de construção do novo terminal após as demolições. Em nota, a administração municipal afirma que a empresa responsável pela demolição colocará tapumes na região para coibir os crimes.

Na data de publicação desta matéria, a região estava com cercas ao redor da área demolida, antes da colocação dos tapumes. A Prefeitura ainda diz que, enquanto isso, a Guarda Municipal fará rondas na região. Veja a nota completa:

A demolição das casas da quadra em que será construído o novo terminal do Capão da Imbuia é feita à medida em que os processos de desapropriação evoluem na esfera administrativa e/ou judiciária. A demolição é feita justamente no sentido de não deixar o imóvel vazio vulnerável a invasões ou uso impróprio.

A mesma empresa que faz a demolição é responsável pelo isolamento da área, que começa a ser feito nesta semana, com tapume total do terreno. A previsão é que o serviço seja concluído nesta semana.

Enquanto essa etapa não é executada, equipes da Guarda Municipal vão reforçar as rondas na região, com objetivo de inibir o uso inapropriado do espaço. Parte do terreno está sendo usado como bota-espera da empresa Obetacem, responsável pela execução do binário Olga Balster e Nivaldo Braga.

A Prefeitura também se manifestou sobre o processo de usucapião no caso da residência da família de Fabiana Jansen. O município diz que a demolição da casa foi por “questão de segurança”  e que o valor da indenização foi depositado ao proprietário do terreno. A família de Fabiana deve ser indenizada após a conclusão da ação de usucapião.

Na esfera judicial, o processo de desapropriação tem prevalência sobre qualquer discussão anterior, por conta do interesse coletivo. Ao ser finalizada, a ação de desapropriação garantiu o depósito do valor em juízo ao proprietário do terreno. Dessa forma, foi dada à PMC a imissão de posse, liberando o imóvel para desocupação e posterior demolição.

O imóvel na rua João Bientinez, 600, foi demolido por questão de segurança, tão logo foi confirmado que a moradora tinha deixado a residência, uma vez que o mesmo estava sendo alvo de depredações e invasões.

Com o valor depositado em juízo, a moradora deve ser indenizada de acordo com a decisão judicial da ação que discute o usucapião do terreno.

Há ainda dois imóveis com a ação de desapropriação em andamento. Serão demolidos tão logo as ações sejam concluídas. Um terceiro já teve o processo finalizado e a PMC aguarda a desocupação para seguir com a demolição.

Novo terminal do Capão da Imbuia

O novo terminal deve ter aumento nas linhas de ônibus (de 11 para 16), ampliando o atendimento a 49 mil passageiros, além de bicicletário e área de serviço e comércio.

O terminal vai ser uma das paradas do Ligeirão Leste-Oeste. A linha vai ligar Pinhais, na Região Metropolitana, à região Norte da Cidade Industrial de Curitiba (CIC).

Uma das intervenções do projeto é o binário nas ruas Olga Balster e Nivaldo Braga, ligando os bairros Tarumã e Cajuru. O local, ao lado do Terminal Capão da Imbuia, está atualmente em obras.

O prazo do contrato com o NDB é dezembro de 2026, previsão para que todas as obras do programa Ligeirão Leste-Oeste, incluindo o novo Terminal Capão da Imbuia, estejam concluídas. 

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