Voluntários levam comida, água e saúde para população de rua de Curitiba

ONGs atuam com o objetivo de oferecer mais dignidade às pessoas em situação de rua

Curitiba tem a oitava maior população em situação de rua entre os municípios do Brasil. Até julho de 2023, eram 3.301 pessoas, cerca de 0,169% da população total da capital paranaense (1.773.733 pessoas, pelo Censo 2022).

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Foto: Divulgação/Aquecendo Corações

Os dados são disponibilizados pelo painel “População em Situação de Rua”, do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC). Os números vêm da base do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico).

Programas da Prefeitura de Curitiba, por meio da Fundação de Ação Social (FAS), oferecem atendimento às pessoas em situação de rua. Mas além da assistência do governo municipal, a população conta com a ajuda e dedicação de vários voluntários e organizações não governamentais (ONGs) que atendem este público.

Em 2023, várias ONGs ofereceram alimentação, banho, assistência médica, água e lazer às pessoas em situação de rua de Curitiba. A maioria dos projetos ocorre na região Central e de forma semanal ou mensal.

População de rua é a causa que menos recebe doações

Para a sobrevivência de projetos e ONGs que trabalham com diferentes públicos, as doações são a principal forma de arrecadação de fundos. E a causa das pessoas em situação de rua é a menos visada pelos doadores.

A Pesquisa Doação Brasil 2022, coordenada pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis), aponta que 84% dos brasileiros doaram em 2022, e 36% da população doou para ONGs.

As causas mais procuradas para doação, de acordo com a pesquisa são:

  • Crianças/causa infantil – 46%
  • Saúde – 30%
  • Combate à fome – 29%
  • Situações emergenciais – 13%
  • Idosos – 11%
  • População de rua/pessoas em situação de rua – 10%

Foi pensando na baixa assistência a esse público que Larissa Ribeiro fundou, em 2018, o projeto Sopão Curitiba, que distribui marmitas todos os sábados para as pessoas em situação de rua. A história foi contada ao Massa News por Yara Christófolli, uma das voluntárias do projeto.

“Larissa voltava para casa da faculdade e viu algumas pessoas dormindo embaixo de uma marquise, tentando se proteger da chuva e pedindo algo para comer. Porém, eram ignorados pelas pessoas que por ali passavam naquele dia”, conta Yara.

Foto: Divulgação/Sopão Curitiba

Um homem pediu ajuda para a jovem e ela não pode colaborar no momento. Mas ao voltar para casa, Larissa e sua mãe fizeram um sanduíche para ele.

“Larissa sabia que era uma solução temporária e para uma única pessoa. Ela gostaria de fazer mais, de poder ajudar mais pessoas que estivessem na mesma situação que aquele rapaz e que precisassem de ajuda, tanto quanto ele”, afirma Yara. E foi assim que surgiu o projeto do Sopão Curitiba, que passou a distribuir marmitas e foi crescendo em voluntários.

Em 2021, o projeto cresceu e se tornou um dos braços da Partilhar – Associação de Voluntários Amigos da Pessoa em Vulnerabilidade Social e em Situação de Rua. 

Para a produção de marmitas, o projeto arrecada doações em dinheiro e também de alimentos. Em 2023, o Sopão Curitiba realizou 36 ações aos sábados, sempre por volta das 18h. A cada ação, são distribuídas 300 marmitas, além de sucos, cafés e refrigerantes.

São cerca de 25 voluntários no projeto, incluindo uma nutricionista que prepara o cardápio. “Ela que elabora o cardápio levando em conta primeiramente o que temos disponível em estoque. Quando não temos todos os itens (principalmente as carnes), pedimos doações nas redes sociais para comprar”, diz Yara.

Os outros voluntários atuam na produção, na limpeza e na distribuição do alimento.

Grupo de voluntários organiza assistência médica e banhos para população de rua de Curitiba

Outra ONG que presta assistência às pessoas em situação de rua da capital paranaense é a Médicos do Mundo. Além de distribuir kits de alimentação com frutas, pão e um docinho, o projeto tem foco em oferecer saúde.

O projeto acontece em várias cidades do Brasil e do mundo. Em Curitiba, voluntários fazem mensalmente uma ação na região central, sendo em sua maioria acadêmicos voluntários. Veja os principais serviços do Médicos do Mundo para a população de rua:

  • distribuição de kit café da manhã
  • enfermagem
  • odontologia
  • consultas médicas
  • farmácia
  • psicólogos
  • atendimento jurídico (ajudando na emissão de documentos perdidos e demais questões)
  • biblioteca
  • banho
  • distribuição de kit higiene
  • distribuição de roupas obtidas por doações
  • laboratório de exames
  • cabeleireiro
  • veterinário para os cachorros das pessoas atendidas.

Segundo Ana Carolina Casarin de Melo, uma das voluntárias e conselheira do Médicos do Mundo em Curitiba, o projeto tem mais de 1.500 voluntários.

“Mas a ação não comporta todos na praça. Por ação são em torno de 230 a 250 voluntários em forma de rodízio, a maior parte sendo dos acadêmicos e do café”.

Foto: Divulgação/Médicos do Mundo Curitiba

A cada ação são distribuídos cerca de 500 kits de alimentos e 200 pães com mortadela, e ocorrem 160 atendimentos de pessoas. Os veterinários atendem 40 cães e gatos por ação, e são distribuídas 45 senhas para banho.

Ana conta que o projeto enfrenta dificuldades para se manter, por desafios burocráticos pelos órgãos reguladores e até pela falta de compreensão de parte da população. Mas ela destaca a importância das ações:

“Reconhecemos que somos uma das poucas oportunidades para que as pessoas em situação de rua tenham acesso à saúde. Essa é uma percepção compartilhada por eles mesmos. Muitas vezes, devido à sua aparência suja ou roupas inadequadas, essas pessoas não são acolhidas em hospitais ou têm dificuldade em se locomover até as unidades de saúde”.

Para a oferta dos banhos, o Médicos do Mundo tem a parceria de outro projeto que atende a população em situação de rua em Curitiba, o Aquecendo Corações. A associação foi fundada há sete anos por Stella Soares, junto com o marido e amigos.

“Eu, meu marido e mais um casal sentimos necessidade de levar alimentos e cobertas nas noites frias do inverno aos sábados. Depois migramos para o café da manhã”, afirma Stella.

Nas ações, realizadas aos sábados, cerca de 70 voluntários ativos atuam no atendimento à população, distribuindo roupas, alimentos e oferecendo banhos. Só em 2023, foram mais de 60 ações, que resultaram em:

  • 9 mil cafés distribuídos
  • 3,6 mil pessoas atendidas com roupas
  • 1760 banhos
  • 3 mil kits de higiene

Stella conta que o Aquecendo Corações sempre recebe voluntários.

“Basta ser uma pessoa isenta de preconceitos, ter vontade de auxiliar sem julgar, não importando a quem, e ter disponibilidade de trabalhar aos finais de semana”.

Na onda de calor, pessoas nas ruas receberam água e melancia

O Projeto Mãos Invisíveis é um das referências de ONGs que atuam no atendimento à população em situação de rua. Além de diversas ações toda semana, o grupo de voluntários atua no diálogo com a Prefeitura de Curitiba e outras redes de atendimento a este público.

O projeto teve início em fevereiro de 2018, em uma ação de Natal para a população de rua de Curitiba. Cerca de 90 voluntários atuam hoje em dia na Praça Generoso Marques em várias frentes de trabalho, como atendimento às famílias, comunicação e captação de recursos.

Dentre as ações de 2023, destacou-se a distribuição de água e melancia durante três ondas de calor que Curitiba enfrentou. No dia 2 de dezembro, a capital chegou a registrar 35ºC pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

“Este ano a onda de calor está sendo avassaladora, já tivemos a distribuição de água nos outros anos, mas sentimos a necessidade de ofertar frutas geladas que pudessem amenizar o calor”, diz Rafaella Riesember, vice-coordenadora do Mãos Invisíveis. “Percebemos que muitos não comiam melancia há muito tempo e que não é uma fruta de fácil distribuição nas ruas. Além de que a fruta é uma ótima forma de hidratação”.

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Foto: Divulgação/Projeto Mãos Invisíveis

Só em 2023, até a publicação desta matéria, foram feitos 38 cafés, quatro ações emergenciais de inverno e três de verão. Rafaella explica que as ações buscam ir além do assistencialismo, e sim de uma criação de vínculo com a população atendida.

“Ali servimos além da alimentação, a escuta ativa. Priorizamos sempre o respeito entre os voluntários e nossos atendidos, propiciando um ambiente leve, pois sabemos da realidade das ruas e dos desafios cotidianos enfrentados por essa população. Neste espaço buscamos trazer música, intervenções culturais e urbanas, tudo para que a real atenção seja voltada às demandas da população”.

Todos os projetos apresentados pelo Massa News nesta reportagem possuem diferentes formas de arrecadação de doações e processos seletivos para captação de voluntários. Acompanhe cada projeto no Instagram e saiba mais sobre o atendimento à população de rua em Curitiba:

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