Após dois adiamentos, nesta quarta-feira (10) inicia o júri de Luis Felipe Manvailer em Guarapuava. O homem, acusado da morte da esposa, a advogada Tatiane Spitzner, é denunciado pelo Ministério Público do Paraná (MPPR) por feminicídio e fraude processual.
Conforme a denúncia criminal oferecida pelo MPPR, por meio da 10ª e da 12ª Promotorias de Justiça da comarca, na madrugada do dia 22 de julho de 2018, após uma discussão quando retornavam de uma casa noturna, o réu passou a agredir a vítima. Boa parte dos fatos chegou a ser registrada pelas câmeras de segurança do prédio onde o casal residia. Ao final das agressões, segundo a ação penal, a mulher teria sido lançada da sacada do apartamento pelo denunciado.
No julgamento, o Ministério Público sustentará a tese de homicídio qualificado (feminicídio, motivo fútil e morte mediante asfixia) e fraude processual (por ter removido o corpo da vítima do local da queda e limpado vestígios de sangue deixado no elevador). A tese do MPPR, comprovada pelo laudo de necropsia e pelo laudo anatomopatológico, é de que a vítima foi jogada da sacada quando já estava morta.
A gravidade dos fatos levou a edição de lei que estabeleceu a data do crime – 22 de julho – como o Dia de Combate ao Feminicídio no estado. Pelo Ministério Público do Paraná, atuará na sessão o promotor titular da 10ª Promotoria de Justiça de Guarapuava.
Caso
A advogada Tatiane Spitzner foi encontrada morta na madrugada do dia 22 de julho de 2018 no apartamento em que morava com o marido, Luis Felipe Manvailer, em Guarapuava.
De acordo com a polícia militar (PM), houve um chamado informando que uma mulher teria saltado ou sido jogada de um prédio. Eles moravam no quarto andar.
A polícia informou que, ao chegar no local, encontrou sangue na calçada do prédio. Testemunhas disseram que um homem carregou o corpo para dentro do edifício. Imagens de câmeras de monitoramento mostram Manvailer carregando o corpo da esposa dentro do elevador.
Manvailer foi preso horas depois da morte da advogada ao se envolver em um acidente na BR-277, em São Miguel do Iguaçu, no oeste do Paraná, a 340 quilômetros de onde o crime aconteceu. Para a polícia civil, ele tentava fugir para o Paraguai.
Durante uma audiência de custódia, Manvailer negou que tenha matado a esposa e disse que a advogada cometeu suicídio. Ele disse ainda que se acidentou porque a imagem de Tatiane pulando da sacada não saía da cabeça dele.
O laudo do exame de necropsia do instituto médico-legal (IML) confirmou que Tatiane foi morta por asfixia mecânica, causada por esganadura e com sinais de crueldade.
Em janeiro de 2020, o Tribunal de Justiça decidiu tirar duas qualificadoras da acusação contra Manvailer. Foram retiradas da acusação do réu as qualificadoras motivo fútil e recurso, que dificultou a defesa da vítima. O pedido do Ministério Público de manter a acusação de cárcere privado também foi negado pelo TJ.
A defesa de Felipe tentou a liberdade do réu através de um pedido de habeas corpus. Mas os desembargadores da 1ª câmara criminal do tribunal de justiça do paraná (TJ-PR) negaram e mantiveram a prisão preventiva do acusado, que deveria ir ao tribunal do júri no dia 03 de dezembro. O julgamento foi adiado porque um membro da equipe da defesa do réu testou positivo para covid-19.
Atualmente, Manvailer está detido na Penitenciária Industrial de Guarapuava (PIG).
Defesa – Laudo do Instituto de Criminalística revela pensamentos suicidas e comportamento depressivo de Tatiane Spitzner
Uma perícia feita pelo Instituto de Criminalística do Paraná, a partir da extração de dados do notebook da advogada, revelou que Tatiane mantinha pensamentos suicidas frequentes e passava, aparentemente, por quadro agudo de depressão.
No período em que morou na Alemanha, junto com o marido Luis Felipe Manvailer, em 2014, Tatiane por diversas vezes revelou ao marido o desejo de se “acabar com a própria vida”.
Em uma das mensagens ela diz ao marido, Luís Felipe: “Sexta eu tava (sic) pensando o dia inteiro em como me matar”, dizia Tatiane por meio de mensagem ao marido.
Em outro trecho, ela revelava lutar contra os pensamentos suicidas: “Por mais que eu pensasse em outra coisa, me pegava pensando”, dizia.
Contradição
Contrariando amigos e familiares de Tatiane Spitzner, que afirmaram ao longo do processo que a jovem sempre teve uma saúde mental em ordem, os laudos mostram uma mulher triste, angustiada, recorrendo ao marido para suportar o peso da doença.
Em dado momento das conversas, Tatiane faz uma revelação. Ela conta que desde adolescentes tem altos e baixos “muito agressivos” e que aos 16 “quase se matou”.
Luís Felipe então diz a ela “vamos dar um jeito nisso amor, custe o que custar, nem que tenhamos que voltar ao brasil”.
Veja mais detalhes sobre este e outros casos na reportagem completa do Tribuna da Massa Ponta Grossa desta quarta-feira (10):