No princípio, era o preto e branco. Então, vieram as cores. Em 31 de março de 1972, há exatos 50 anos, as telas ganharam imagens coloridas, com a primeira transmissão da televisão em cores no Brasil. Quem acompanhou essa mudança, do preto e branco para as imagens, pôde vivenciar a sensação de estar imerso na programação da televisão, vislumbrando detalhes de cada cena. Augusto Silva, 78 anos, foi um deles e recorda o momento com carinho: “Foi fascinante poder ver a tela ganhando um colorido, me senti cada vez mais próximo do que estava na TV”.
A novidade nas telas trouxe resultados positivos para o mercado. Especialista em teledramaturgia, Elmo Francfort diz que houve um aumento significativo da venda de televisores. “Quando as cores chegaram, a poesia foi maior, no sentido de que as cores deram novas impressões, novas interpretações, uma vez que melhorou o contraste, a nitidez, o brilho e, principalmente, a variação das cores. As pessoas ficaram impressionadas com aqueles novos tons”, afirma o especialista.
Já o coordenador do Módulo Técnico do Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (Fórum SBTVD), Luiz Augusto, explica como a revolução na história da televisão no Brasil aconteceu tecnicamente. “Naquela época, a TV 1.0 analógica, apenas transmitia as imagens em preto e branco, no Sistema PAL-M. Com a chegada da TV 1.5 com a TV analógica colorida, retrocompatível com a TV 1.0 – Sistema PAL-M, foi realizado o evento da Festa da Uva, em Caxias do Sul (RS), que ficou popularmente conhecido como o início de uma nova era para a TV aberta.” Francfort acrescenta que a data foi escolhida pelo presidente Médici em alusão ao dia em que os militares tomaram o poder em 1964.
Para comemorar os 50 anos da TV em cores, o Museu da TV, Rádio & Cinema, vai abrir suas portas em São Paulo. Segundo Elmo, o espaço contará não só a história da TV em cores. “No Centro de Memória estarão peças importantes de todas as empresas de comunicação, como o querido SBT e a trajetória de Silvio Santos, desde os tempos da TV Paulista e Rádio Nacional de São Paulo”, revela.
Tecnologia e mudanças na televisão
De 1972 a 2022, os aparelhos de televisão passaram por diversas mudanças. O avanço da tecnologia revolucionou a captação e a transmissão de áudio e vídeo. “Nos anos 1980, vieram o ‘closed caption’ — legenda oculta, com ativação opcional pelo usuário, contendo a transcrição do áudio –, o som estéreo e o second audio program (SAP), que permite transmitir em um canal de áudio alternativo o áudio original de um filme estrangeiro ou a audiodescrição”, conta Luiz Augusto.
Francfort elenca algumas das transformações da TV, como a integração das redes, as transmissões regulares via satélite e a consolidação da TV paga e a convergência com a internet, em 1990. A agilidade foi outro fator apontado: “O que muitas vezes demorava meses para termos as informações, hoje conseguimos saber em tempo real”.
O ritmo do desenvolvimento e lançamento de inovações cada vez mais acelerado transforma os televisores. De acordo com o Forúm da SBTVD, os aparelhos de TV disponíveis atualmente têm maior resolução e contraste do que aqueles suportados na primeira geração. “É o oposto da situação de mercado de quando a TV Digital foi lançada no Brasil, quando a oferta de aparelhos HDTV era muito baixa. A disponibilidade e velocidade do acesso à Internet no Brasil, principalmente em áreas metropolitanas, aumentaram significativamente, permitindo o consumo de conteúdo audiovisual ‘on-demand’.”
O futuro da televisão
O especialista em teledramaturgia enxerga quebras de barreiras no futuro: “É hora de ver as imagens como se estivessem exatamente na nossa frente, com o mesmo som do ambiente em que está”. Com a tecnologia, Francfort acredita que os espectadores serão beneficiados com uma maior interatividade, uma maior escolha sobre o conteúdo e uma melhor definição tanto de imagem, como de som.
Segundo o SBTVD, após o desligamento da televisão analógica no Brasil, em 2016, o Fórum reconheceu a necessidade de evoluir entendendo que a transição para uma nova geração de Televisão Digital Terrestre é um processo longo, devido aos investimentos exigidos, tanto das emissoras quanto dos consumidores, e à expectativa de vida prevista para transmissores e receptores de TV. “Logo, considerado necessário aumentar a expectativa de vida do sistema existente de Televisão Digital Terrestre tanto quanto possível por meio de uma evolução retrocompatível (um projeto que chamamos de ‘TV 2.5’) e iniciar o desenvolvimento da próxima geração de Televisão Digital Terrestre (o projeto que chamamos de ‘TV 3.0’)”, descreve Luiz Gustavo.
O telespectador pode esperar para o futuro, com a TV 3.0, mais qualidade da experiência, mais realismo e sensação de imersão do conteúdo, informou o Fórum. Além disso, o novo sistema vai ter uma integração maior com a internet, facilitando a comutação transparente entre os conteúdos ao vivo mais populares que são transmitidos para todos de forma aberta pelo ar e os conteúdos personalizados que são transmitidos sob demanda pela internet.
“O sistema também deve fazer um uso ainda mais eficiente do espectro, permitindo que um mesmo canal seja usado para transmitir diferentes conteúdos locais da mesma rede, permitindo inclusive a diferenciação de programação em diferentes partes de uma mesma cidade. Com isso, as novas possibilidades de customização geográfica e por perfis permitem a oferta de conteúdos mais relevantes para cada telespectador. Outra novidade é mais qualidade de áudio (imersivo e personalizável) e vídeo (UHD, HDR), além de novos recursos de acessibilidade e de alerta de emergência. Por fim, a navegação não será mais por canais, mas por apps, assim como já fazemos nos smartphones. Tudo isso sem que a TV deixe de ser aberta e gratuita”, aponta o Fórum.
Informações portal SBT News.