Mais de 150 mil doses da vacina contra leishmaniose visceral canina (LVC) foram distribuídas pela VetBR no ano passado, número 50% maior do que o registrado em 2020. As vacinas contra LVC devem ser utilizadas em animais expostos ao risco ou que vivem em áreas endêmicas, como o Brasil. Ainda assim, segundo a VetBR, menos de 3% dos cães chegam a ser vacinados contra essa doença no país. “O índice é baixo mesmo em estados com maior prevalência da doença, como Minas Gerais e Ceará”, sinaliza a gerente comercial da companhia, Ivana dos Santos.
De acordo com a distribuidora, o incremento de 50 mil doses repassadas no ano passado é um efeito da pandemia da covid-19, período marcado por um aumento no número de adoções de cães, associado ao maior tempo que os tutores passaram em casa e conseguiram dar mais atenção à saúde dos animais.
No cronograma da vacina, a primeira aplicação em cães acontece com três doses da vacina aos quatro meses de idade. A partir daí, é recomendável a revacinação anual com apenas uma dose, o que na avaliação da VetBR deve interromper esse ‘boom’ já em 2022.
É fundamental que os donos continuem vacinando os animais com o reforço anual. Outro fator de prevenção, é o uso de pipetas com efeito repelente, que afasta o mosquito parasita, e pode ser feito a partir de sete semanas de vida ou 1,5 kg de peso, protegendo o filhote, bem antes da primeira dose da vacina.
A VetBR também recomenda mais empenho dos órgãos de saúde pública no controle da doença e nas informações repassadas à população. A LVC é uma doença de notificação compulsória, sendo os veterinários responsáveis pelos animais obrigados a preencher a Ficha de Investigação Epidemiológica (FIE). Entretanto, muitas cidades não possuem um centro de controle de zoonoses ou local adequado para fazer essa notificação.
Outro ponto de atenção, é o combate aos mitos sobre a eficácia da vacina. É obrigatório o exame sorológico negativo e exame clínico antes da vacinação, certificando que o animal não apresenta nenhum sintoma clínico da doença. Entretanto, a soroconversão (período de janela imunológica) leva em média 3 a 5 meses pós-infecção em animais assintomáticos, podendo chegar a 2 anos ou mais. O exame pode apontar um falso negativo para animais já infectados.
Segundo a médica veterinária da VetBR, Larissa Barros Santos, a transmissão da leishmaniose visceral canina ocorre principalmente pela picada do flebotomíneo, mais conhecido como mosquito-palha. “O cão é considerado o responsável pela manutenção do ciclo biológico no ambiente urbano, pois apresenta o maior número de parasitas, principalmente na pele. O diagnóstico é considerado difícil, pois há grande variedade de sintomas que não confirmam a doença, como crescimento exagerado das unhas, anemia, palidez da mucosa, dermatites, crescimento do baço e fígado, entre outros”, afirma o especialista.
A prevenção é tratada como essencial pelos especialistas em saúde animal, já que a LVC é considerada uma das zoonoses mais graves para cães e seres humanos. Segundo dados do Ministério da Saúde, o país registra em média 3,5 mil casos da doença em humanos todos os anos. Nos dados mais recentes, de 2018, aproximadamente 300 pessoas morreram vítimas de leishmaniose visceral no Brasil, o que leva a uma taxa de letalidade de 8%. A título de comparação, a relação de contaminados/mortes de humanos por outras doenças transmitidas por vetores, como zika, dengue e chikungunya não chega a 0,1%. Para os cães, há tratamentos contra a leishmaniose que aumentam a sobrevida e qualidade dela para o animal infectado, mas não há cura.