O acidente vascular cerebral (AVC) é a segunda principal causa de morte no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Nesse cenário, estudos recentes apontam para maior incidência do quadro em mulheres jovens quando comparado a homens da mesma idade.
Entidades médicas enfatizam ser indispensável a agilidade no diagnóstico de um paciente com essa suspeita, solicitando exames de imagem com brevidade, como tomografia computadorizada e ressonância magnética.
No Brasil, as mortes por AVC voltaram a ocupar o topo, representando mais de 32 mil óbitos no início de 2022, conforme o Portal da Transparência dos Cartórios de Registro Civil. Estima-se que, ao longo da vida, uma em cada seis pessoas terá um AVC — que mata cerca de 6,5 milhões de indivíduos por ano.
Existem dois tipos de AVC: o isquêmico e o hemorrágico. Causado pela obstrução de um vaso sanguíneo, o primeiro é responsável por cerca de 85% dos casos de AVC; os demais 15% são referentes ao tipo hemorrágico, que ocorre quando um vaso enfraquecido se rompe e sangra no cérebro.
A conduta terapêutica para um AVC isquêmico ou hemorrágico é diferente. Dessa forma, o momento de estadia do paciente na emergência é destinado ao diagnóstico e à identificação do subtipo.
Maior incidência de AVC em mulheres jovens
Pesquisa publicada na revista Stroke, da American Heart Association, indica que mulheres entre 25 e 44 anos têm mais chances de sofrer um AVC do que homens da mesma idade.
Os pesquisadores analisaram um banco de dados de mortes de segurados nos Estados Unidos no período de 2001 a 2014, calculando o número de AVCs isquêmicos com base em internações hospitalares.
Dados do estudo mostram que ocorreram 17 derrames por 100 mil mulheres e 12 derrames por 100 mil homens de 25 a 34 anos. A diferença se mantém na faixa etária de 35 a 44 anos, com uma taxa de 40 AVCs por 100 mil mulheres e 35 para homens.
Para Michelle Leppert, principal autora do estudo e professora assistente de Neurologia na University of Colorado School of Medicine, a incidência maior de derrame em mulheres jovens pode ser explicada por fatores que favorecem o surgimento da doença, como uso de pílulas anticoncepcionais, enxaquecas, gravidez e distúrbios autoimunes.
A pesquisa não incluiu pessoas sem seguro-saúde. Além disso, o banco de dados usado pelos cientistas não contava com informações sobre raça ou etnia. Portanto, os pesquisadores acreditam que mais estudos e investigações são necessários para conseguir dados com mais precisão e clareza.
Pesquisa holandesa intitulada “Incidência de AVC em adultos jovens de acordo com idade, subtipo, sexo e tendências temporais“, publicada na revista Neurology, também encontrou mais AVCs em mulheres entre 18 e 44 anos.
Atenção aos sinais
Em entrevista à imprensa, a vice-presidente de pesquisa e chefe da divisão de AVC da Wake Forest Baptist Health Cheryl Bushnell explica que esse tipo de pesquisa é importante para conscientizar o público feminino.
Ela enfatiza ainda que é fundamental conseguir o diagnóstico o mais rápido possível para evitar sequelas graves.
Caso a mulher, pessoas ao redor ou profissionais de saúde não consigam identificar o AVC, o atendimento sofrerá atraso. Uma oportunidade perdida de restaurar o fluxo sanguíneo pode levar a uma deficiência, morte ou outras complicações
Assim, é preciso conhecer sintomas característicos — rosto caído, dificuldade de fala e fraqueza nos braços, por exemplo. Além disso, mulheres mais jovens podem apresentar enxaqueca e sintomas visuais, como visão turva. Também são sinais de AVC fraqueza geral, confusão ou desorientação mental, alucinações, dificuldade de respiração, falta de ar, falta de coordenação, náuseas e vômitos.
Fatores de risco
Segundo os pesquisadores, ainda são necessários mais estudos para determinar com exatidão qual o papel do gênero no AVC isquêmico em adultos jovens. Os dados, contudo, mostram ser necessário prestar atenção em hábitos que possam aumentar os riscos de ocorrência de AVCs precoces.
Em declaração à imprensa, a presidente da Rede Brasil AVC Sheila Cristina Ouriques Martins afirmou que, atualmente, há mais casos de obesidade, diabetes e hipertensão na camada jovem. Portanto, essas doenças estão diretamente relacionadas ao AVC. Ela menciona que fatores como má alimentação e sedentarismo também aumentam o risco.
Estresse é outro ponto de atenção para casos de AVC em jovens, pois aumenta significativamente o risco de ocorrência desse tipo de problema. Estudo publicado na revista Lancet em 2021 revela que indivíduos que trabalham mais de 55 horas por semana têm até 33% mais chances de ter um acidente vascular em comparação àqueles que trabalham entre 35 e 40 horas semanais.
Além disso, os fatores que devem ser considerados pelas mulheres, como o uso de pílulas anticoncepcionais orais, terapias de reposição hormonal, gravidez e puerpério, quando associados ao tabagismo, aumentam o risco de AVC. Nesses casos, a atenção deve ser dobrada entre mulheres jovens e de meia-idade, especialmente com mais de 40 anos.
Exames necessários
Todos os pacientes com deterioração neurológica súbita ou acidente vascular cerebral devem ser submetidos a exames de imagem, como tomografia de crânio e ressonância magnética.
Em seu diagnóstico, os exames de imagem são primordiais, porque permitem identificar o local da lesão, qual o tipo de AVC e suas formas de tratamento. Além deles, devem ser avaliadas a glicemia e a saturação do paciente com frequência.
A presidente da Rede Brasil AVC afirma que, no caso do AVC isquêmico, a cada minuto que o paciente fica sem receber tratamento, são perdidos 1,9 milhão de neurônios. Assim, reforça-se a importância de identificar os sintomas e buscar socorro rapidamente para diminuir o risco de morte e evitar danos permanentes, como redução de movimentos, perda de memória e prejuízo à fala.