Relacionamentos podem ajudar a manter humor e suportar situações dolorosas

DANIELLE CASTRO

Foto: Canva

RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – O valor dos relacionamentos na conquista da felicidade pode até parecer um clichê de filme, mas um estudo norte-americano conduzido por quase um século confirmou que as pessoas próximas, de fato, influenciam quanto somos felizes.

Após acompanhar por 85 anos um grupo de 724 homens (e seus mais de 1.300 descendentes de ambos os gêneros), pesquisadores da Universidade Harvard concluíram que os vínculos mais fortes à nossa volta são o fator de maior impacto ao longo da vida. Eles influenciam a qualidade da saúde e bem-estar e são determinantes, inclusive, para a longevidade.

Chamada de Estudo do Desenvolvimento de Adultos, a análise continua em curso, mas seus resultados já renderam palestras e até um livro com os dados das oito primeiras décadas. “The Good Life: Lessons from the World’s Longest Scientific Study of Happiness” (a boa vida: lições do mais longo estudo científico sobre felicidade do mundo), de Robert Waldinger e Marc Schulz, ainda não tem versão em português e estava esgotado, mas foi reeditado e reimpresso neste mês pela Ebury Digital.

A edição em inglês está disponível em livrarias nacionais e custa a partir de R$ 50,97 (e-book) e R$ 235 (impresso). A obra discute tópicos apresentados pelos autores no TED Talk The Good Life, um dos dez mais assistidos da plataforma no mundo.

Waldinger, professor de psiquiatria da Escola de Medicina de Harvard e diretor do grupo, e Schulz, diretor associado do estudo, buscam com a pesquisa responder quais momentos da vida de fato valem a pena. E, após avaliar três gerações de famílias, eles são categóricos: não é carreira, exercício físico ou dinheiro, mas o cultivo de relacionamentos calorosos que fazem a diferença.

Os dois descobriram que as conexões pessoais atuavam sobre saúde física, mental e longevidade dos participantes de forma poderosa e consistente. Uma vida plena e repleta de significado, portanto, depende de relações de qualidade.

Quem tem vínculos mais fortes, por exemplo, independentemente da idade ou da etnia, têm menos risco de morrer, de acordo com os resultados apresentados.

Waldinger compara essas relações a analgésicos, uma vez que podem nos fazer suportar mais dor e situações dolorosas do que seríamos capazes sozinhos.

Idosos de 80 anos integrantes da pesquisa e com relacionamentos felizes apresentaram menor mudança de humor mesmo quando estavam em dias com mais incidência de dor.

Os autores também registraram que, ao segurar as mãos de um amigo ou ente querido, as pessoas que levavam choques em testes sentiam menos nevralgia. O grupo de controle, que deu as mãos a estranhos, não relatou esse efeito.

Importar-se com as pessoas, porém, também pode ter suas desvantagens.

O estresse de cuidar de um parente com Alzheimer, por exemplo, pode afetar o sistema imunológico, reduzindo a capacidade de cicatrização. Mulheres com 60 anos cuidadoras de pacientes com perda de cognição, quando lesionadas, mostraram um processo de cicatrização até nove dias mais lento.

“Se você tivesse que fazer uma escolha de vida, agora mesmo, para se colocar no caminho da saúde e felicidade futuras, qual seria?”, indagam os autores logo no primeiro capítulo.

Segundo eles, 76% dos millennials participantes da pesquisa responderam que seu principal objetivo de vida era ser rico e 50%, ser famoso. Mais de uma década depois, esse mesmo grupo pôs a fama no fim da lista e priorizou pontos como ganhar dinheiro, ter uma carreira de sucesso e quitar as dívidas.

Os autores afirmam que a definição de felicidade muitas vezes é atrelada a cobranças sociais e estímulos de consumo vindos da publicidade e das redes sociais. “O sucesso na vida geralmente é medido por título, salário e reconhecimento de conquistas, embora a maioria de nós entenda que essas coisas não contribuem necessariamente para uma vida feliz por conta própria […] estamos sempre comparando nosso interior com o exterior de outras pessoas”, afirmam os autores.

Luiz Roberto Ramos, médico e professor titular do Departamento de Medicina Preventiva da Unifesp, diz que estudos como o conduzido por Harvard demonstram o impacto e influência do psicológico na saúde.

“Esse capital social -família, amigos, interação social, capacidade de circular e conhecer novas pessoas- é super importante para a resiliência que se vai ter para se manter ativo e funcional. Isso tudo fortalece a saúde e a capacidade de permanecer autônomo, independente, que é o conceito de saúde atual. Esses resultados só confirmam isso”, afirma Ramos, que é coordenador do Centro de Estudo do Envelhecimento da Unifesp.

Cristoforo Scavone, neurofarmacologista do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de São Paulo (USP), lembra que hormônios e neurotransmissores associados à felicidade e bem-estar (como a serotonina, dopamina, ocitocina e endorfinas) são sinalizados para o corpo não só a partir de exercício físico e boa alimentação, mas também pelo ambiente.

“Bons relacionamentos com os parceiros ou mesmo como amigos, para os solteiros, são fundamentais, pois atuam como um tipo de enriquecimento ambiental. Essas práticas influenciam diretamente os sinalizadores e, com isso, podem ajudar a ter uma vida mais saudável”, diz Scavone.

Por Folhapress.

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