Especialista fala sobre conflito entre Rússia e Ucrânia e suas consequências

A guerra na Ucrânia chega nesta sexta-feira (18) ao seu 23º dia. Vladimir Putin, presidente da Rússia, e Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, ainda não chegaram a um acordo e seguem enviando tropas para o confronto armado.

Foto: Adobe Stock

As consequências do conflito são eminentes em todo o mundo, e o Brasil enfrenta dificuldades econômicas ainda maiores por conta das sanções impostas à Rússia.

Ainda é difícil prever todos os impactos que o conflito vai gerar em todo o mundo, mas alguns reflexos já são sentidos no Brasil. Para explicar melhor como a guerra no Leste europeu afeta a economia brasileira, o doutor e mestre em Direito Internacional e professor na PUCPR, Eduardo Saldanha, esclarece as principais dúvidas sobre o tema:

Massa News: Recentemente houve mais um aumento no valor dos combustíveis no Brasil, o conflito teve alguma influência para esse aumento no Brasil? Há a possibilidade de aumentar ainda mais?

Eduardo Saldanha: sim, obviamente esse conflito está gerando um impacto nas cadeias produtivas do comércio internacional. Não falamos necessariamente da escassez de petróleo ou do problema do gás natural, mas quando eu fecho alguns mercados, como o que está acontecendo com a Rússia, também há impacto no embargo ao gás natural russo. O mercado russo não consumindo petróleo de outras regiões gera um impacto também no aumento de combustíveis no mundo, estamos falando de algo que se determina pelo mercado internacional – o preço do petróleo.

Quando o mercado internacional tem uma perspectiva de perda, de diminuição de PIB de alguns países, de diminuição da circulação de riquezas, isso impacta no risco. E o impacto no risco aumenta o preço dos produtos – não somente dos combustíveis, mas da farinha, do pão, dos produtos da cesta básica. Isso porque a Rússia sempre foi um grande exportador de ureia, utilizada para fertilizantes (usados na agricultura, cujo preço mais alto afeta o custo agrícola). E também há o custo de frete, que hoje na Europa aumenta, devido ao seguro. Então todos esses pequenos pontos vão afetar diretamente a composição dos preços internacionais.

Tudo isso, mais a adoção de medidas de retaliação unilaterais por países que fazem comércio com a Rússia, explica o porquê do conflito ter um impacto no aumento dos combustíveis – e certamente há uma grande possibilidade dele aumentar ainda mais. O que não quer dizer que isso vá ter um impacto no bolso do consumidor, pois o governo brasileiro pode adotar medidas para diminuir o impacto do aumento desses preços no mercado internacional, a partir de subsídios, de medidas para frear o aumento de preços frente à Petrobras, por exemplo.

MN: Caso o conflito se estenda, quais medidas devem ser tomadas para amenizar os prejuízos causados em Curitiba e no Brasil?

Saldanha: Caso ocorra uma extensão no prazo deste conflito – o que é bem possível que aconteça – infelizmente as medidas a serem tomadas são medidas principalmente provenientes do estado. Obviamente, o mercado buscará outros parceiros. Só que nessa busca por novos parceiros, novos fornecedores, a busca por estabilização dos preços das commodities, do frete internacional, do seguro do frete internacional, essas soluções que chamamos de mercadológicas, não ocorrem de forma imediata. Portanto, os impactos serão sentidos e estão sendo sentidos. E quais seriam as medidas a serem tomadas? Primeiro, a adaptação mercadológica (que ocorre num tempo menos rápido, menos imediatista), mas também as ações do estado, do governo, a partir de abertura de crédito aos produtores rurais, que sofrem com o aumento dos insumos, e a interferência (embora isso não seja recomendado sob o ponto de vista econômico e até mesmo não faça parte da perspectiva adotada pelo ministro Paulo Guedes) do próprio estado na economia, do Banco Central na flutuação do dólar. Portanto, esses prejuízos sentidos em Curitiba e no Brasil podem ter uma solução mercadológica e uma solução estatal.

MN: O valor dos produtos nos mercados também teve um aumento significativo e podemos perceber isso em diversos alimentos, desde carnes até verduras e legumes. Existe a influência do conflito para que isso aconteça? E existem produtos em específico que podem ser mais afetados?

Saldanha: nós temos não um caso localizado no Brasil, mas uma questão mundial que é o aumento da inflação. O aumento da inflação é gerado pelo aumento do preço de insumos, combustíveis e commodities, devido a movimentações de mercado internacional. Nós perdemos um grande mercado consumidor e um grande mercado fornecedor que é a Rússia. Ou seja, é preciso nesse momento uma readaptação do mercado quanto ao fornecimento e compra – e isso gera aumentos nos preços, aumento das commodities, no preço do petróleo e a desvalorização do dólar, que gera a inflação. Não é uma inflação devido a circunstâncias internas do Brasil, é uma inflação devido a uma crise internacional.

A inflação quando se instala afeta todos os aspectos da nossa vida e obviamente os alimentos serão afetados. Há uma influência do conflito, sem sombra de dúvidas. Não podemos esquecer que o mundo estava se recuperando de um momento de pandemia, tinha conseguido uma auto adaptação do mercado internacional e de repente temos um novo fenômeno internacional, o conflito na Ucrânia, que acaba gerando também impactos econômicos internacionais.

Neste momento, os produtos agrícolas estão sendo mais afetados. Mas o governo parece já estar adotando soluções para minimizar esses impactos – e minimizando os impactos nos produtos agrícolas, nos alimentos, busca-se diminuir o impacto no consumidor final, na vida dos brasileiros.

MN: Também temos relatos sobre problemas na importação de peças da Rússia para as fábricas de automóveis aqui da região de Curitiba e problemas com o preço de outros itens vindos da Rússia. Que tipo de problemas a indústria e o comércio da região metropolitana de Curitiba pode sofrer se o conflito se estender?

Saldanha: esse é um problema menor do que os citados acima, o fornecimento de peças para a indústria que podem ser aproveitados por outros mercados fornecedores, como a China, para conseguir mercado. A China está se movimentando para ocupar os espaços deixados pelo mercado Russo, dessa forma ocorre uma oscilação de preço imediata, neste caso há uma possibilidade de adaptação de mercado muito mais rápida de outros exemplos citados acima. A indústria sofre com o fornecimento pode haver uma redução ritmo produtivo o que causa um impacto econômico, neste caso as substituições aconteçam mais rápido do que imaginamos,

MN: A crise econômica provocada pela pandemia no Brasil ainda persiste ou o país já está se recuperando dessa fase? Em ano de eleições presidenciáveis, é possível imaginar possíveis cenários para o futuro?

Saldanha: Com base nos acontecimentos atuais os impactos são grandes, consideráveis na economia, uma vez que também estamos saindo de uma pandemia que foi contornada pelo governo em partes. O ano de eleições é de muito investimento que provavelmente será um pouco freado por conta das questões. O conflito na Ucrânia alterou as prioridades do ano eleitoral em termos de investimentos.

*Eduardo Saldanha – doutor e mestre em Direito Internacional, especialista em relações internacionais e professor da Escola de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)

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