Protagonizado pela atriz Fernanda Thuran, peça é apresentada em Curitiba no Guairinha

O hábito ancestral das famílias de se sentar para ouvir histórias fantásticas é resgatado no espetáculo Os Encantados do Sossego, estrelado pela atriz Fernanda Thurann e dirigido por Monique Sobral de Boutteville, que também assina a dramaturgia ao lado de Edyr Augusto.  A montagem poderá ser assistida em Curitiba, em três apresentações nos dias 15, 16 e 17 de julho, no Centro Cultural Teatro Guaíra (auditório Guairinha).

Foto: Walda Marques

Segundo Monique de Boutteville, idealizadora do projeto, o espetáculo nasceu da pesquisa para o doutorado dela sobre a preservação de algumas práticas artísticas/culturais amazônicas. “A pesquisa foi iniciada com a atriz Fernanda Thurann em 2015, como um processo de coleta lúdica de dados. Rapidamente, percebemos a potência cênica das narrativas e dos dispositivos de contação que identifico como métodos próprios ao contador marajoara”, revela. 

A trama explora lendas e mitos amazônicos ao acompanhar a história de Joana, uma mulher que vive na “Casa do Sossego”, na Ilha do Marajó, na foz do Rio Amazonas. Ela embarca em suas lembranças mais antigas para desvendar os mistérios que rondam a sua família. E se depara com eventos extraordinários – ora trágicos, ora fantásticos – que pairaram sobre aquele núcleo, depois que a família decidiu morar em terras Marajoaras.

A narrativa, de acordo com a diretora, é um emaranhado de memorias. “Ela tem uma forte base nas narrativas coletadas (os mitos do Boto e da Mulher Cheirosa), mas também cita e encarna outras histórias ancestrais, como A Cobra Grande do Sossego. A própria Joana foi construída a partir de referências da mitologia amazônica, como as figuras de Iara, Matinta e Damiana. Mas o texto também tem um caráter autobiográfico de experiências familiares vividas na região. Minhas memorias hoje se confundem com as de Joana, não consigo mais dissociar inteiramente o que é memoria inventada, vivida e coletada”, relata.

A construção da protagonista também evoca importantes temas do universo feminino, como a solidão, a perda e a maternidade. “Eu me identifico com a Joana em diversos aspectos. Talvez muito desse lugar de solidão me é bastante particular e essa ideia de crescer e se ver só no mundo. Essa rotatividade de pessoas e sentimentos que entram e saem de nossas vidas. Outro ponto de identificação é a força que ela tem de, mesmo nas adversidades, tirar algo bonito e valoroso”, conta a atriz Fernanda Thurann.

“Os ensaios para esse trabalho se tornaram um processo muito íntimo, muito delicado, além de tratar de histórias muito reais. Apesar de estarmos contando sobre lendas e mitos da Ilha de Marajó, são histórias que tratam de dores reais e tentamos, de forma lúdica, contar sobre as perdas da vida, que é comum a todos”, acrescenta a atriz. O espetáculo é um convite para conhecer um lugar mágico e exaltar a cultura brasileira. É uma história de amor, fraternidade e de respeito à natureza, aos ancestrais e às crenças de um território místico.

A encenação

Ambientada em uma casa em ruinas corroída pelo tempo, pelas encantarias e pela natureza, a cenografia assinada pelo paraense Nando Lima aposta em um conjunto de elementos naturais e objetos cênicos para transpor uma ambientação que se divide entre a floresta amazônica e a casa em ruinas de uma família que já teve muita abundância, mas que que foi corroída pelo tempo, pelas encantarias e pela natureza. Os acessórios são assinados pelo artista-artesão Ronaldo Guedes, ceramista marajoara que traz à cena elementos em barro e madeira. O trabalho do artista também fala sobre ancestralidade e é marcado pelo grafismo marajoara.

O figurino evoca elementos de uma família outrora abastada com traços de vestimentas típicas das danças tradicionais da região.  A trilha sonora do músico e compositor Thiago Sobral possui paisagens sonoras gravadas com sons da floresta que costuram a narrativa. A presença de dois músicos em cena permite um diálogo sonoro direto com a atriz.

Sobre a diretora Monique Sobral de Boutteville

Monique Sobral de Boutteville é formada em Cinema pela Universidade Paris 8, em Teatro pela CAL-RJ e em Letras – Língua Francesa pela Universidade do Pará. Tem mestrado em Estudos Teatrais pela Universidade Paris 8 e é doutoranda pela Universidade Saint Denis-Paris 8. 

Atuou, dirigiu e escreveu várias peças de teatro no Brasil e na França e é cofundadora da Cia. 4Pontas, no RJ, e da Cie Ibrida em Paris. No seu percurso interartístico, associando teatro e cinema, dirigiu e atuou em curtas-metragens e documentários. Suas áreas de pesquisa e criação envolvem adaptação em cinema e teatro, memória imaterial, interculturalidade e práticas tradicionais amazônicas.

Sobre a atriz Fernanda Thurann

Atriz e produtora executiva da Brisa Filmes, Fernanda Thurann é formada pelo The Lee Strarsberg Theatre and Film Institute, em Nova York, nos EUA.  No cinema, produziu o premiado longa Medusa que teve seu lançamento na Seleção Oficial da Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes2021, participou como atriz e produtora do premiado longa de terror Cabrito, de Luciano de Azevedo, e do filme Rogéria, Senhor Astolfo Barroso Pinto, do também premiado Pedro Gui. Atuou ainda em Paula, de Joana Collie; “Pedro Sob a Cama, de Paulo Pons, e Cartografia das Ondas, de Heloísa Machado. Em julho, estreia a série Maldivas da Netflix.

No teatro, ela produziu e atuou na adaptação de Dogville, dirigida por Zé Henrique de Paula, a partir do filme de Lars Von Trier. Participou também de O Nó do Coração, de David Elridge; Perto do Coração Selvagem, com direção de Luis Arthur Nunes; Diários do Paraíso, de Caio Andrade; O Mambembe, de Arthur Azevedo; e Café Playa Moon (OFF Broadway – Nova York/EUA).

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